Depois de uma diminuição dos casos reportados na região de Lisboa no início da semana, nos últimos dois dias os novos casos reportados voltaram a ultrapassar os 300 diagnósticos diários e a situação parece manter-se estável, sem um agravamento significativo mas ainda sem sinais de muita melhoria. Nos últimos sete dias, houve uma média diária de 275 novos casos em Lisboa, contra 269 nos sete dias anteriores, estando ainda por inserir nos boletins os 200 casos que no final na semana passada foram reportados à Direção Geral da Saúde por um laboratório que esteve três dias sem enviar dados para a plataforma de notificações. O Governo já deu nota de uma tendência ligeira de diminuição mas não foram ainda divulgadas novas atualizações por concelho e só os próximos dias poderão determinar a trajetória. O primeiro-ministro deu a entender que o país deverá manter-se a três velocidades na segunda quinzena de julho, ou seja, as freguesias mais afetadas em estado de calamidade, a Área Metropolitana de Lisboa em estado de contingência e o resto do país em estado de alerta. “Não antecipo que na próxima quinzena se altere o estado de classificação das diferentes partes do país. A boa notícia é que para já nada indica que tenhamos de elevar o nível de alerta que vigora na generalidade do país”, disse António Costa. Na próxima segunda-feira haverá um conselho de ministros extraordinário para avaliar a situação e definir as medidas para as próximas semanas. Até sábado, dia em que deixaram de ser divulgados casos por concelhos, notava-se no entanto algum abrandamento dos casos diários em Loures e na Amadora, enquanto em Sintra e Lisboa não havia ainda uma diminuição. Por outro lado, a realização do teste de despiste à covid-19 após contacto com alguém positivo nem sempre é imediata, com a Saúde 24 a encaminhar as situações para os centros de saúde, com indicação de que podem levar até três dias a dar resposta para avaliação.
Especialistas preveem aumento das hospitalizações Ainda que a situação nos concelhos mais afetados da grande Lisboa possa vir a abrandar com maior controlo das cadeias de transmissão e isolamento de casos suspeitos e confirmados, foi essa a expectativa transmitida na reunião técnica no Infarmed após terem sido reforçadas as equipas no terreno – com as garantias do gabinete de crise de Rui Portugal de que os inquéritos epidemiológicos estão a ser agilizados –, não se espera um verão isento de sobressaltos nem um alívio da ocupação hospitalar por covid-19.
Numa entrevista ao SOL, que será publicada este fim de semana, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explica que, tal como tem acontecido desde o início de junho, as projeções apontam para um aumento lento mas progressivo das hospitalizações, que deverão passar ao patamar dos 600 internamentos.
O especialista acredita no entanto que este nível de ocupação será comportável: ainda que agora concentrado na grande Lisboa, corresponde a cerca de metade do que o que se verificou no pico da epidemia no início de abril. A expectativa é que a situação em Lisboa melhore mas deverão continuar a ocorrer surtos e focos ao nível municipal, nesta ou noutras áreas do país, sendo uma das grandes preocupações a capacidade de intervenção rápida, diz Manuel Carmo Gomes. Para o epidemiologista, o Algarve suscita neste momento a maior preocupação, dado o afluxo esperado durante as férias, com mais ou menos turistas estrangeiros, mas pessoas de todo o país.
A ocorrência de surtos em lares é outra das preocupações, assim como o risco de focos nos hospitais. Ontem a administração do Centro Hospitalar Lisboa Central revelou que foram confirmados já 12 casos positivos no foco detetado esta semana no Hospital de S. José. Nos lares, o surto em Reguengos de Monsaraz, onde subiu para 16 o número de mortes, fez também soar os alarmes pela rápida transmissão, com mais de 100 casos associados a este foco. A preocupação já chegou ao outro lado da fronteira, com os municípios espanhóis de Villanueva del Fresno e Valencia del Mombuey, no sudoeste da província de Badajoz, a defenderem o encerramento da fronteira, isto pouco mais de uma semana depois de ter sido reposta a circulação normal entre Portugal e Espanha.
Numa altura em que o país ultrapassou a barreira dos 45 mil casos e já houve mais de 30 mil pessoas recuperadas da covid-19, esta quinta-feira registaram-se mais 13 mortes, o pior registo diário desde o início de junho, o que poderá ser já o reflexo do aumento dos idosos infetados nas últimas semanas. Tanto na última semana como na anterior houve mais de 200 idosos com mais de 80 anos com teste positivo para a covid-19, a faixa etária com maior risco e em que a letalidade ronda os 20%.