por Francisco Rocha Gonçalves
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Oeiras
É consensual que o turismo é um dos sectores mais afetados pela crise provocada pela pandemia de covid-19, o que deixa Portugal a enfrentar dificuldades acrescidas nesta crise pandémica – foi o turismo o motor da recuperação económica portuguesa do pós-subprime.
No ano passado, segundo os dados do World Travel & Tourism Council, o sector representava mais de 40 mil milhões de euros, cerca de 19% da riqueza produzida em Portugal.
Com este caminho, é lógico que as políticas públicas para a área do turismo ganharam, naturalmente, visibilidade.
Só que, com a pandemia, a travagem abrupta das atividades económicas, as regras que somos obrigados a cumprir para evitar a proliferação da doença, e a confiança abalada dos consumidores, estão a pôr em cheque a dependência que Portugal tem tido do turismo.
Quando se multiplicam as estimativas mais pessimistas das organizações internacionais e quando o próprio ministro da economia classifica a retoma como “hesitante e moderada”, só podemos ficar apreensivos. No caso do turismo, estamos a olhar, também, para mais de 9% do emprego do País, acelerando o temor da crise social que se avizinha.
Temos, assim, de olhar para a economia por outro prisma, para as políticas públicas, que podemos qualificar como libertadoras de dinâmicas locais, que permitem às regiões e aos municípios ganharem capacidade para promoverem o crescimento e o desenvolvimento económico na sua área de influência, de forma mais diversificada e adaptada às capacidades intrínsecas.
Detenhamo-nos, brevemente, no caso que melhor conheço, o de Oeiras. Procuramos, desde o primeiro momento, centrar a nossa atividade na criação das melhores condições para as organizações aqui se instalarem e poderem desenvolver a sua atividade. E trabalhamos, sempre, para que os habitantes do concelho tenham uma melhor qualidade de vida, seja profissional ou no lazer. Em suma, queremos cativar as empresas e dar-lhes condições de prosperar e atrair população e proporcionar-lhe qualidade de vida.
O dinamismo da atividade económica local é mensurável. Os dados de 2018 do Sistema de Contas Integradas das Empresas, do INE, atualizados no final do primeiro trimestre deste ano, mostram que Oeiras é o segundo município do País, a seguir a Lisboa, no volume de negócios das empresas não financeiras, com mais de 25 mil milhões de euros – traduzindo uma subida de 6% face aos valores verificados em 2017. Estes números quase duplicam o registado pelas empresas instaladas no concelho do Porto, o terceiro a nível nacional, e praticamente triplicam o volume de negócios das empresas não financeiras de Vila Nova de Gaia. Para termos ideia do que representa esta atividade empresarial, Cascais, concelho vizinho, com cerca de 6 mil milhões de euros de faturações nas empresas não financeiras, representa apenas 25% dos números de Oeiras.
Estes números, reveladores para muitos de uma realidade desconhecida, indicia o que quase sempre se esquece: toda a atividade existe no território. Olhamos demasiado para setores e pouco conhecemos da realidade concreta. Oeiras preocupou-se sempre com o fomento da atividade económica, com a maximização das suas vantagens competitivas.
A libertação das dinâmicas económicas, que fazem o desenvolvimento real, é um dos grandes desafios dos próximos anos. Não é possível ter boas políticas públicas se estas esquecerem a dimensão do real, do território. Caso contrário, continuaremos espantados com a espuma dos dias sem transformarmos a realidade concreta.