Em termos de segurança fez o pleno: não é segura para os utilizadores, não é segura para os automobilistas e não é segura para os veículos de emergência. Em relação à fluidez do trânsito também teve efeito contrário ao pretendido: o congestionamento é quase permanente e os transportes públicos ficam parados no trânsito. Quanto à poluição, quer a sonora quer a do ar, embora sem medições conhecidas, é fácil de antecipar que a consequência do congestionamento agrava estes indicadores. Mas se tudo isto não bastasse, também reuniu a contestação de moradores, comerciantes e utilizadores.
A estratégia ‘pop-up’ consiste em iniciativas promovidas pela Câmara Municipal na organização do espaço público, procurando responder à atual crise de covid-19, criando condições para o uso do espaço público compatível com as recomendações de distanciamento físico.
A intenção parece ser positiva. Lisboa tem espaços públicos magníficos que podem e devem ser usufruídos pelos lisboetas: praças, jardins e ruas que convidam à estadia ou a passeios e o clima é favorável à permanência na rua. Por outro lado, a utilização de modos suaves de mobilidade deve ser incentivada como complemento ou alternativa à utilização do automóvel individual ou dos transportes públicos. Este rumo é correto, embora falte o essencial: transportes públicos capazes de corresponder a esta evolução.
Mas como em tudo, o fundamentalismo e a precipitação podem prejudicar a compreensão e a adesão a uma nova visão para a mobilidade urbana. Em Lisboa, infelizmente, não faltam exemplos de intervenções erradas ou de falta de medidas que têm prejudicado os objetivos, quer em termos de resultados, quer em termos de adesão dos cidadãos.
A rede de ciclovias em Lisboa desenvolveu-se substancialmente nos últimos anos. Mas podem apontar-se alguns erros na sua implementação e nas opções de localização como a prioridade que começou por ser dada à ligação entre espaços verdes (os corredores verdes), a sua localização nos passeios ou a construção de diversos troços sem interligação.
Recentemente foi anunciada a construção de uma rede ciclável estruturante, correspondendo aos principais eixos de deslocação da cidade.
A primeira ciclovia desta rede foi implantada na Rua da Palma e na Avenida Almirante Reis, eliminando uma faixa de rodagem de rodagem entre o Martim Moniz e a Praça do Chile (com a intenção de extensão até ao Areeiro em setembro). O resultado foi desastroso como consequência de planeamento desadequado, falta de estudos prévios sobre os seus impactos e a contestação é generalizada. O trânsito tornou-se caótico e os moradores e comerciantes não foram convidados a pronunciarem-se. Esta intervenção foi uma precipitação e serviu para criar mais críticos das ciclovias, para além de prejudicar a mobilidade na cidade. Ainda bem que é ‘pop-up’ pois poderá ser eliminada, dado que dificilmente poderá ser corrigida ou compatibilizada com as características daquele eixo principal.
Mas o que é preocupante é que várias outras ciclovias em eixos estruturantes foram anunciadas. Espera-se que os erros agora verificados não se repitam. E, nomeadamente, que se estude primeiro o impacto e que se escutem as populações.
A política ‘pop-up’ pode adequar-se a esplanadas temporárias ou até a algumas ciclovias, mas a intervenção em eixos estruturantes da cidade deve merecer outra ponderação para se evitar erros como na Avenida Almirante Reis.