A Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) anunciou, na passada terça-feira, que haviam sido concluídas as provas de recrutamento para a direção do Museu do Aljube, em Lisboa, e que a escolha do júri tinha recaído sobre uma politóloga e antiga deputada do PCP: Rita Rato.
A notícia caiu mal a alguns historiadores e representantes de associações do setor. Nas redes sociais, a historiadora Irene Pimentel foi uma das primeiras a questionar a escolha. «Pergunto: o que é isto? Que escolha é esta? Alguém que não é nem historiadora, nem museóloga, mas apenas militante de um partido, da qual foi deputada e que, ao ser questionada, sobre o Gulag estalinista e prisões políticas na China, responde que não sabe de nada!», escreveu. Irene Pimentel referia-se a declarações da deputada ao Correio da Manhã em outubro de 2009 e nas quais esta afirmou desconhecer o que era o gulag.
Tanto João Neto, presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), como Maria de Jesus Monge, que preside ao comité português do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal), afirmaram estarem surpreendidos com a escolha da EGEAC, considerando que a politóloga não tem a formação na área da museologia necessária para ocupar o lugar.
A politóloga e ex-deputada do PCP é licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa e foi deputada desde 2009 até ao ano passado. Entre 2011 e 2015 coordenou o Grupo Parlamentar, da Comissão de Educação, Ciência e Cultura e, segundo a EGEAC, destacou-se «pelo projeto apresentado e pelo desempenho nas entrevistas realizadas com o júri». A EGEAC acrescentou, em resposta à agência Lusa, que o museu «conta com uma equipa com sólida formação académica e científica que continuará a apoiar a nova direção, assim como o Conselho Consultivo do Museu, do qual fará parte, Luís Farinha, anterior diretor do museu».
O lugar que será ocupado por Rita Rato a partir de 1 de agosto ficou disponível em abril, após a saída de Luís Farinha, que foi um dos membros do júri que escolheu o nome da nova diretora no processo de recrutamento aberto pela EGEAC.
Na sua coluna de opinião ontem publicada no Público, Rui Tavares argumentou que o problema não se tratava de Rita Rato não ter formação na área da museologia. «Não, caros colegas historiadores, o problema com Rita Rato ter vencido o processo de recrutamento para dirigir o Museu do Aljube não é ela não ser historiadora nem museóloga. O que não falta por aí são excelentes diretores de museu, programadores culturais e gestores públicos que não são uma coisa nem a outra», escreveu Tavares. Para o historiador, o problema prende-se com as declarações da politóloga na já citada entrevista, pedindo uma clarificação sobre as mesmas. «[O único problema] de Rita Rato que é preciso perceber de uma vez por todas [é] se nega ou reconhece a realidade histórica do Gulag como repressão em massa de milhões de seres humanos, se a condena ou não, e se se arrepende ou não das suas declarações passadas sobre o assunto».