Incêndios. O “perigo” da floresta portuguesa que “continua abandonada”

Presidente da Liga dos Bombeiros disse ao i que não existe planeamento na nossa floresta. Só este ano, a GNR já fez 23 detenções pela prática do crime de incêndios.

Os incêndios florestais que têm assolado Portugal nos últimos dias – muito por causa do calor intenso que se faz sentir em todo o país -, têm sido uma dor de cabeça para os profissionais. O país tem o dispositivo de combate aos fogos “no seu expoente máximo”, tal como revelou esta terça-feira a secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, e o risco de incêndio permanece elevado em muitos concelhos do país. Na Serra da Lousã, por exemplo, um bombeiro de 55 anos, José Augusto Dias, morreu enquanto combatia um fogo, no sábado –  situação que transtornou o presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares.

“A floresta portuguesa é sempre um perigo permanente e constante, atendendo a que não há planeamento nem ordenamento na nossa floresta. Continua abandonada. O problema é de um planeamento da floresta em prevenção estrutural que não se faz há mais de 50 anos. E o bombeiro morreu ou aqueles bombeiros ficaram feridos em Castro Verde porque os guerreiros estão na frente da batalha terrível, com um adversário terrível. E hoje com um aliado traiçoeiro que é a covid-19, que pode exercer efeitos psicológicos – se não forem outros – neste ambiente”, revelou ao i, fazendo alusão aos cinco bombeiros que sofreram ferimentos – em dois dos quais graves – durante um incêndio em Castro Verde, que deflagrou na segunda-feira e destruiu mais de dois mil hectares de floresta.

“É esta a vida dos bombeiros e vai continuar a ser. Vão tendo alguns equipamentos, não sendo o que necessitamos. Estamos muito aquém disso. O Estado não tem estado à altura dos seus compromissos”, atirou Jaime Marta Soares, apesar de Patrícia Gaspar ter dito ontem que está a decorrer um concurso para serem distribuídos mais de dez mil equipamentos de proteção individual aos bombeiros.

Além disso, Jaime Marte Soares abordou ainda a situação delicada que se vive nos Bombeiros Voluntários de Elvas – encontram-se sem órgão de gestão devido a guerras entre elementos da corporação e a lista vencedora da direção nas eleições de março, noticiado ontem pelo i.

“Uma coisa é a associação e a respetiva direção. Outra é o comando e o corpo ativo, que  têm de estar a leste disso. Não têm de se envolver em situações que são dos sócios. Mas já sabemos que, infelizmente, há sempre situações que se deviam evitar e o ser humano é assim. Espero que essa situação em Elvas seja ultrapassada”, confessou o presidente da Liga dos Bombeiros.

23 detidos e 185 identificados
D
esde o início do ano até este domingo, 12 de julho, a Guarda Nacional Republicana (GNR) registou 23 detenções em flagrante delito e identificou 185 pessoas pela prática do crime de incêndio rural.

“Foram ainda elaborados 2.098 autos por contraordenação ao Decreto-lei n.º 124/2006, de 28 de junho, na sua redação atual, dos quais, 1.576 devido à falta de gestão de combustível (limpeza de terrenos), 422 em queimas e 100 em queimadas, por realização não autorizada ou por negligência na sua execução”, sublinhou a GNR ao i, referindo ainda que já foram realizadas 3.900 ações de sensibilização que alcançaram 57 mil pessoas.

“Importa ainda referir que, de 1 de janeiro a 12 de julho, a GNR registou 3.102 focos de incêndio rural, materializados em mais de 6.000 hectares de área ardida (dados provisórios). Em 2019, no mesmo período, foram registados 5.517 incêndios rurais com uma área ardida de 10.262 hectares”, concluiu a GNR.