Um dos maiores banqueiros portugueses anunciou a saída da liderança do gigante financeiro. António Horta Osório revelou que iria sair da presidência executiva do Llodys, considerado um dos maiores bancos britânicos de retalho, em junho do próximo ano. Apelidado de ‘samurai da city’ pelo El País ou de Special One da banca para outros, Horta Osório irá abandonar funções dez anos depois e após concluir o terceiro plano estratégico desenhado para o banco que tem como principais objetivos prepará-lo para um mundo digital. «Convicto assumido de que as pessoas não se devem perpetuar nos cargos, para benefício das instituições e dos próprios, Horta Osório decidiu deixar o cargo de CEO do Lloyds em 2021 após uma década de enorme importância para o maior banco de Inglaterra e altamente desafiante para o gestor», disse a instituição financeira, em comunicado.
Para o banqueiro, as emoções são outras. «É com um misto de emoções que anuncio a minha intenção de deixar o Lloyds Banking Group em junho do próximo ano. Foi um enorme privilégio ter contado com o apoio de uma equipa extraordinária, tanto no Conselho de Administração como no Conselho Executivo, com a qual vou continuar a contar até terminarmos a implementação do nosso plano estratégico, contribuindo para transformar o Grupo no banco do futuro».
Mas se hoje o Lodys voltou a ser encarado com um gigante financeiro, nem sempre foi assim. Horta Osório assumiu os comandos do Lloyds em março de 2011, na sequência da aquisição do HBOS, que implicou a entrada do Estado no banco, com 39% do capital, no seguimento da crise financeira. Mas o banqueiro português conseguiu dar a voltar e devolveu ao Estado britânico 21 mil milhões. Um objetivo que deixou muitos surpreendidos, já que no meio deste desafio foi obrigado a afastar-se da liderança da instituição financeira por motivos de saúde. Mais tarde, numa entrevista à BBC, falou do seu caso de burnout e aconselhou que «os períodos de alta performance laboral devem ser conciliados com períodos significativos de descanso». E justificou o seu estado: o banco estava com problemas financeiros e não podia falar no assunto porque tal afetaria a confiança na instituição. «Era um problema constante na minha cabeça, o que me levou a dormir cada vez menos. E dormir cada vez menos levou-me à exaustão, até deixar de vez de dormir».
Afastou-se oito semanas e voltou cheio de força para dar volta à situação. Uma tarefa que foi agora reconhecida por Lord Blackwell, chairman do Lloyds, ao destacar a «extraordinária contribuição» do gestor português para o desenvolvimento estratégico do grupo, sublinhando que o seu «compromisso pessoal e a sua forte visão» conduziram a um período de enormes mudanças bem-sucedidas.
Prémios, mas também escândalos
Este ano recebeu o prémio da Foreign Policy Association em Nova Iorque, pela sua carreira internacional desenvolvida em vários países e pela forma como tem contribuído para divulgar o seu conhecimento público dos assuntos económicos e financeiros internacionais. Recebeu também o Visionary Award da Associação britânica REBA, por liderar a abordagem exemplar do Lloyds ao bem-estar mental dos funcionários e da sociedade como um todo. Foi também considerado uma das 50 personalidades mais influentes do mundo pela Fortune. O seu trabalho à frente do Lloyds Bank e ter assumido publicamente que sofria de esgotamento chamou a atenção da revista. Esta atitude do bancário, segunda a revista, nunca tinha sido abertamente discutida entre CEO’s de topo e «ajudou a acabar com um estigma num setor notório por levar os trabalhadores além dos seus limites».
Mas nem tudo foram rosas. Para trás, ficou o escândalo de ter pago despesas pessoais com dinheiro do banco quando esteve em Singapura para participar na Conferência Monetária Internacional. A informação foi avançada pelo jornal The Sun e apontava para faturas na ordem dos quatro mil euros. A juntar ‘à festa’ os gastos teriam sido feitos com uma amiga consultora de Tony Blair com quem o banqueiro foi fotografado a passear em Singapura. A história ganhou maiores contornos, já que foi o próprio banqueiro que, três anos antes, introduziu instituição financeira um código de conduta para todos os empregados. Um dos pontos prende-se exatamente com a imagem que é passada pelos trabalhadores do banco. De acordo com as diretrizes do CEO, os colaboradores deveriam passar a adotar um comportamento moderado e ter em conta a forma como este seria visto pela família e amigos. Ainda assim, saiu ‘beliscado’ desta situação.
Salto o para clube dos grandes banqueiros
Casado e com três filhos é conhecida a sua paixão pelo sushi, mergulho, ténis e esqui. O banqueiro de 56 anos é licenciado em Gestão e Administração de Empresas, na Católica, tendo começado a sua carreira no Citibank. Já a trabalhar concluiu MBA no Insead, acabando por ser recrutado pela Goldman Sachs. Desenvolve a sua atividade em Nova Iorque e Londres, ligado ao corporate finance para Portugal. Daí até entrar no Santander foi um salto. Aos 39 anos, transformou-se no mais jovem presidente de um banco em Portugal e conseguiu transformá-lo num dos maiores bancos nacionais depois de ter conseguido comprar o Totta e o Crédito Predial, conseguindo assim o seu passaporte para o clube dos grandes banqueiros portugueses. Mais tarde acabou por largar a bomba ao afirmar que ia sair do país.
Ainda assim, esteve sempre atento aos problemas da economia portuguesa. Horta Osório falou várias vezes no problema de falta de ambição do país e nos níveis «preocupantes» do crédito mal parado da banca portuguesa.
O próximo desafio ainda é uma incógnita, mas há quem aposte no seu regresso a Portugal.