por Francisco Rocha Gonçalves
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Oeiras
Quando li a notícia de que o primeiro-ministro António Costa tinha pedido a António Costa Silva para elaborar um plano estratégico de transformação da economia portuguesa para os próximos 10 anos, pensei que era um ótima ideia para falhar.
Costa Silva é um “desenvolvimentista”, alguém que tem uma ideia estratégica de desenvolvimento: estabelece um plano, ponderando as vantagens comparativas e competitivas e fá-lo de uma forma, a que o País não tem estado habituado, com recurso a conhecimento, estudo e ideias, não de forma avulsa ou romantizada.
O plano que apresentou, e cuja forma inicial se tornou pública via WhatsApp (foi assim que o recebi por, pelo menos, 10 pessoas), assenta num conjunto de coisas conhecidas, e outras inovadoras.
As conhecidas são um tanto óbvias, excepto para uma mole de gente que anda pela vida a pensar que o dinheiro cai do céu, e dizem respeito à infraestruturação do País, educação, energia verde e nossa inserção nas redes internacionais do comércio de mercadorias.
As menos óbvias têm a ver com o pensamento que decorre do seu conhecimento sobre áreas que a maior parte de nós ignora, como a exploração mineral, no onshore e no offshore (particularmente o açoriano) e no reforço do peso da indústria na produção nacional.
Logo assistimos às críticas e às ansiedades.
Levantou-se um coro, constituído quer por críticos, quer por aliados do Governo, e até por seus membros: o Ministro do Mar veio pedir “muita cautela” na exploração do Mar, referindo “não ser urgente” iniciar a exploração comercial do mar profundo, por “termos a nível mundial depósitos minerais suficientes em terra”, pelo que, “seria preferível não ter de fazê-lo”.
Não se sabe se o Ministro do Mar vive no mesmo mundo da maioria dos portugueses, se leu as notícias que perspetivam que Portugal será o País mais pobre da União Europeia ou se tem acompanhado o crescimento do desemprego nos últimos meses.
Dado que é ministro, vou assumir que as leu e, assumindo isto, e cruzando com estas declarações – que nem sequer tiveram grande impacto público – da minha parte estou esclarecido. A ideia só pode ser continuarmos a empobrecer.
O plano de Costa Silva tem, para as pessoas da minha geração, uma vantagem substancial em relação a estas palavras: dá-nos uma perspetiva de caminho de crescimento e desenvolvimento futuro, uma saída para este marasmo que tem durado toda a nossa vida adulta.
A romaria sazonal dos nossos governantes a Bruxelas para, de mão estendida, pedirem aos nossos aliados um “dinheirinho” para nos aguentarmos mais um tempo é um embaraço.
É um embaraço e deve ser sentindo como tal.
Onde tem estado o nosso brio, a nossa vontade de transformarmos esta realidade?
Há governantes que, reconheça-se, tentaram. Outros há que, lamentavelmente, nos têm pedido para empobrecer com dignidade, e cujo único desígnio é pagar contas a horas. Pagar contas é o mínimo, é como limpar o lixo, não ter buracos nas estradas ou ter os passeios em ordem. É o mínimo exigível. Como tal, não serve senão como meio.
Outros voos exigem ideias e criatividade, e isso não se consegue com a mediocridade, o célebre “poucochinho”.
Costa Silva dá-nos a perspetiva do que podemos fazer para transformar a nossa realidade e acabar com a romaria de mendicidade a Bruxelas.
Mas dá também, aos que estão zangados com as políticas das últimas décadas, algo em que acreditar: uma ideia de País com futuro, longe dos Chega/Basta que apenas vendem ódio, ou da emigração forçada a que as últimas gerações foram condenadas.
O problema de Costa Silva é apenas um: a atual geração de governantes não quer o mesmo para o País, ou não tem o mesmo rasgo.
Quer apenas continuar a fazer o que sempre fez: lutar pela cadeira, não pela caneta.
Não é o cargo que muda o mundo, o que muda o mundo é o que se faz com o cargo.