Entre os 700 milhões de utilizadores do LinkedIn, há quem use esta rede social para procurar emprego ou contratar funcionários. E há quem a use para a obter informação sensíveis sobre os Estados Unidos, aproveitando-se de antigos militares ou analistas desesperados por emprego, alguns dos quais seriam assinalados aos serviços secretos chineses para futuro recrutamento. Era o que fazia Jun Wei Yeo, de 39 anos, conhecido como Dickson Yeo, um cidadão de Singapura detido em Washington, que confessou ser um agente a soldo da China, na sexta-feira. Arrisca ser condenado a até 10 anos de prisão.
Licenciado em Relações Internacionais na prestigiada Faculdade de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, que formou boa parte da administração de Singapura, a relação de Yeo com as secretas chinesas começou com uma conferência em Pequim, em 2015, onde foi abordado por supostos representantes de think-tanks chineses. Queriam relatórios políticos e informação, mas sobretudo conhecimento interno e rumores do que se passava nos bastidores do Estado norte-americano. Yeo acedeu, mas rapidamente percebeu que os seus contactos eram na verdade agentes da China – ainda assim, levou a cabo o acordado, confessou.
Para tal, Yeo “usou sites de networking profissional e uma falsa empresa de consultoria para atrair americanos que poderiam ser de interesse”, explicou em comunicado o procurador encarregue do caso, John Demers. Em 2018, o agente chinês publicitou um anúncio de emprego e recebeu mais de 400 currículos, uns 90% deles de antigos militares e funcionários norte-americanos com autorização de acesso a informações secretas.
Alguns foram receberam milhares de dólares para escrever relatórios para a suposta empresa de consultoria, com recurso aos seus conhecimentos internos. Os assuntos iam do desenvolvimento dos caças F-35 norte-americanos aos impactos da retirada das tropas dos EUA do Afeganistão. A pedido das secretas chinesas, eram também questionados por Yeo sobre se teriam problemas financeiros.
A detenção de Yeo é resultado da recente ofensiva norte-americana contra a espionagem chinesa, incluíndo acusações de fraude contra quatro cientistas chineses que terão escondido as suas ligações ao Exército de Libertação Popular da China. Entre eles está Tang Juan, uma cientista detida este fim-de-semana, após serem encontradas fotos suas de uniforme militar