Incêndios. Quase 20 anos depois, Oleiros volta a arder

Em 2003, as chamas destruíram 70% da floresta de Oleiros, distrito de Castelo Branco. Este sábado, o fogo voltou e passou para outros dois concelhos: Proença-a-Nova e Sertã. O incêndio não está dominado, a área ardida é considerável e já foram destruídas casas, apesar de não se saber se eram de primeira habitação e quantas…

A combinação entre temperaturas altas, vento forte e um território pouco organizado resultou na propagação de um incêndio de grandes dimensões no distrito de Castelo Branco. Este sábado, as chamas começaram a deflagrar numa zona de mato em Oleiros, acabando por alastras para os concelhos vizinhos de Proença-a-Nova e Sertã. Próximo de habitações, o fogo ainda não foi dado como dominado e a tutela teme que a situação se prolongue até terça ou quarta-feira. Em 2003, o concelho de Oleiros perdeu 70% da floresta devido a um grande incêndio que provocou na altura a morte a duas pessoas e destruiu cerca de 20 casas. Quase 20 anos depois, o moradores de Oleiros vivem o mesmo cenário: uma pessoa morreu este sábado e sete ficaram feridas.

Até ao final da tarde deste domingo, estavam mais de 850 bombeiros a combater as três frentes ativas do incêndio, sendo a proteção das pessoas e habitações a prioridade dos profissionais. O vento forte foi o grande inimigo no combate às chamas e os meios aéreos (14) não conseguiam chegar a todas as zonas, já que em algumas a visibilidade era reduzida devido ao fumo intenso.

A última atualização  feita pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil aconteceu ao final da tarde e Luís Belo Costa, comandante Distrital de Operações de Socorro de Castelo Branco, avançou que os profissionais no terreno iriam avançar com a manobra de uso de fogo. 

“Há pequenas aldeias nesta região que constituem um fator de preocupação acrescida e de dispersão de meios, porque temos naturalmente de dar prioridade à defesa destes aglomerados. Temo-lo feito com sucesso e temos deslocado pessoas por uma questão de segurança”, adiantou Luís Belo Costa. Quanto a habitações destruídas, ainda não foi possível fazer essa contabilização: “Há registo de alguns danos em edificações, mas não sabemos ainda a tipologia das habitações e a sua importância”, acrescentou. Sobre a área ardida, o comandante da Proteção Civil explicou que as contas também ainda não foram feitas, mas trata-se de uma “área considerável que atinge uma grande mancha do território”.

O governo português solicitou apoio a Bruxelas que colocou este domingo um apoio satélite para combater o fogo e, se for necessário, disponibilizou mais ajuda. A informação foi avançada pelo comissário europeu responsável pela pasta da Gestão de Crises, Janez Lenarcic: “Estamos a acompanhar de perto os incêndios florestais no município de Oleiros, em Portugal. O Serviço de Gestão de Emergências do Copernicus foi acionado para apoiar as autoridades nacionais de proteção civil”. Este sistema permite ter informações geoespaciais, a partir de mapas de satélite, para compreender melhor quais as zonas afetadas, facilitando o combate no terreno. 

Inquérito às circunstâncias da morte de bombeiro

No âmbito do combate ao incêndio no distrito de Castelo Branco, um bombeiro de 21 anos, da corporação dos Bombeiros Voluntário de Proença-a-Nova, morreu este sábado. O que se sabe até ao momento é que o jovem seguia numa viatura que capotou em Perna do Galego, no concelho da Sertã. No veículo de combate às chamas seguiam mais quatro bombeiros que foram projetados para o exterior antes de o carro cair numa ravina. O corpo do jovem foi encontrado carbonizado e os restantes bombeiros sofreram vários ferimentos. Até ao final de domingo, registaram-se sete feridos – cinco ligeiros e dois graves. 

Durante a tarde deste domingo, o ministério da Administração Interna avançou que será aberto um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do bombeiro. O ministro Eduardo Cabrita emitiu uma nota de pesar, assinalando a “a forma empenhada, altruísta e profissional com que todos os dias milhares de bombeiros integram este esforço nacional da defesa da floresta contra incêndios”. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa também lamentaram a morte do jovem, que é a terceira registada este ano no âmbito do combate aos incêndios. 

2200 incêndios só em julho 

Eduardo Cabrita avançou também este domingo que só no mês de junho foram registados mais de 2200 incêndios, “uma média de 120 incêndios por dia ao longo deste mês de julho, sobretudo nos últimos 10 dias”. E lembrou que  “este é um combate de todos os portugueses”. Só este sábado, registaram-se “123 incêndios, com a participação de 4.400 operacionais e com 103 intervenções de meios aéreos”. 

O ministro da Administração Interna aproveitou para falar sobre ordenamento do território – fator que contribuiu para a propagação dos incêndios. “O ordenamento florestal é uma responsabilidade de todos os portugueses e tem a ver com uma dimensão de transformação da floresta que tem de ser prosseguida todos os dias e levará a anos de intervenção”, explicou.