Esta história de que as mulheres e os homens têm direitos iguais é um tanto ou muito irritante. Todos sabemos que isso não é verdade. Pior que isso, quando as mulheres são alvo de um crime e são repetidamente alvo desse mesmo crime e os mecanismos falham sistematicamente em protegê-las, o que é que isto quer dizer? Que vivemos num país com uma mentalidade maioritariamente machista. Que para muitos homens as mulheres ainda servem como jarra decorativa e por lá ficam, a apanhar pó. Pior que ficarem a apanhar pó, é serem partidas. Desfeitas. Abusadas. No entanto, também temos mulheres, que em troca de um ‘falso’ poder, se metem na posição de jarra decorativa, pois se as mesmas fossem vítimas de um crime, eram tratadas, exatamente, como as anteriores. Depois, temos as mulheres, que acreditam em dar um passo em frente, em nunca recuar, que é preciso fazer mais e melhor, que buscam pela reivindicação por direitos iguais nos seus postos de trabalho e que honradamente se recusam a exercê-los se não for conforme os seus princípios, como aconteceu com a magistrada Clara Sottomayor, que foi acusada de ter violado o seu dever de reserva, só e apenas por ter dito em artigo: "É minha honra de juíza" e incluir referências a deliberações tomadas no seio do Tribunal Constitucional, quando decidiu deixar de exercer funções, sendo também a única mulher a fazê-lo até agora pelas razões mencionadas, a sua honra e a tornar pública as suas circunstâncias. Ou seja, numa tentativa ardilosa de a calarem e suprimirem, foi-lhe feita uma participação, agora, arquivada por unanimidade.
No entanto, Clara teve de ver o seu bom nome mesquinhamente participado, apenas por ser uma mulher de honra, valores e princípios num mundo de homens da magistratura. Portanto, o feminismo é isto mesmo, é desmontar o machismo como um puzzle, a maneira como a sociedade de um país vê a figura feminina. Apesar de muitos não quererem ainda desmontar o machismo e de terem um medo tremendo da palavra ‘feminista’, tornando-a em seu bom proveito, radical, é através de ações e da consciência de que mulheres e homens têm os mesmos direitos que avançamos como Estado e país. As ações do país: como a opressão, a criminalidade contra as mulheres, a falta de mesmos direitos no trabalho, a falta de independência para tomar decisões em lugares de presumível poder, tudo isto é desmontar o machismo perante um país. Portanto o próprio país acaba por fazê-lo sozinho.
Qualificar de extremistas as mulheres feministas que apoiam outras mulheres, que elas próprias tomam decisões, que apenas querem ter os mesmos direitos que os homens sempre tiveram, que caminham ao lado dos homens, parece-me excessivo e inqualificável ou apenas machista!