O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, nem teve tempo para usufruir do chamado estado de graça, após a sua eleição em congresso. Cerca de um mês e meio depois, a pandemia da covid-19 ditou-lhe o confinamento. A ele e a aos portugueses em geral. A tarefa de recuperar algumas causas do CDS e falar mais para o eleitorado conservador não tem sido fácil, ainda que o presidente democrata-cristão esteja todos os dias (ou quase todos) na estrada, a abordar as dificuldades nas empresas (pediu vezes sem conta um choque de tesouraria por exemplo), na agricultura, no emprego, no ensino ou noutros setores. Pelo caminho, teve esta semana uma surpresa: António Lobo Xavier a fazer pressão para se apoiar Marcelo Rebelo de Sousa nas próximas presidenciais. "Se o CDS não apoiar Marcelo Rebelo de Sousa, eu não vejo como possa continuar no CDS. Não apoiar Marcelo Rebelo de Sousa é para mim uma impossibilidade e, portanto, um partido a que eu pertenço, se tivesse outra opção, ainda que fosse simbólica ou até porventura ridícula, obrigar-me-ia a sair", declarou o histórico dirigente, no seu comentário habitual no programa Circulatura do Quadrado, da TVI24. De realçar que Lobo Xavier integra o grupo de sábios centristas para o plano de relacionamento da economia, criado pelo presidente do CDS.
O discurso do histórico dirigente soou a ultimato, mas o que Lobo Xavier quis dizer foi que o seu partido precisa de uma definição sobre as presidenciais, porque será útil para próprio CDS e para evitar dar espaço a ambiguidades, leia-se ao Chega!, de André Ventura. O histórico centrista considerou ainda que está convicto de que o seu partido irá apoiar Marcelo Rebelo de Sousa.
Porém, os potenciais efeitos da intervenção de Lobo Xavier obrigaram-no a falar com Francisco Rodrigues dos Santos para dissipar qualquer dúvida ou ruído interno, apurou o SOL. Dito de outra forma; está com o líder centrista e não o queria prejudicar. Assunto arrumado.
Contudo, as presidenciais são um problema para os centristas por vários motivos. Primeiro, não haverá uma figura de destaque que possa concorrer contra Marcelo Rebelo de Sousa. Segundo, no CDS, teme-se que o voto de protesto de democratas-cristãos vá para André Ventura, o líder do CHEGA, partido que pode roubar cada vez mais espaço aos centristas.
Entretanto, a entrada em cena do candidato presidencial apoiado pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, deixou vários centristas a respirar de alívio. O voto de protesto anti-Marcelo pode ir para este candidato ( e não para André Ventura). E Marcelo? Terá o apoio oficial do CDS? A seu tempo, sim, mas só quando desfizer o tabu sobre uma recandidatura. Até lá, o CDS terá de preparar uma narrativa de apoio a um Presidente da República que tem merecido críticas ( e contestação) dentro do partido. E esse trabalho já começou. Esta sexta-feira, Francisco Rodrigues dos Santos desafiou Marcelo Rebelo de Sousa a esclarecer se é recandidato antes de convocar as eleições presidenciais. Além disso, o líder do CDS exortou-o a esclarecer um ponto fundamental: "Se no dia das eleições vai querer representar uma vitória do centro direita ou centro esquerda", declarou a partir do Porto ( onde se reuniu com o setor de bares e discotecas).
Nesta semana, o eurodeputado Nuno Melo, que tem evitado comentar a situação interna do CDS, fez uma análise ao partido: "O Francisco Rodrigues dos Santos é presidente num dos momentos mais difíceis da nossa história partidária, porque tem de ser presidente de um partido concorrendo à direita com partidos que não existiam. É muito difícil encontrar um discurso certo para combater tudo isto. Compreendo que a gestão do partido é hoje muito difícil. E a nossa obrigação, independentemente do líder é tentar ajudá-lo ou pelo menos não criar ruído", declarou Nuno Melo à Rádio Campanário.