Depois de ter anunciado que iria abandonar Espanha, esta segunda-feira, o Rei emérito Juan Carlos já viajou para Portugal e está exilado em Cascais, avançou a TVI. Como o SOL já tinha avançado, a hipótese de Juan Carlos vir para Cascais já tinha sido colocada em cima da mesa e já tinha sido sugerida por várias pessoas, visto o pai de Felipe VI ter passado grande parte da sua juventude em Cascais.
O escritor Manuel Vicent, num artigo de opinião do El País, mencionou o assunto: «Antes que sua conduta irresponsável acabe por apodrecer totalmente a monarquia, alguém deveria convidar educadamente ao Rei Emérito a voltar ao mesmo exílio de onde veio, visto que este país, que lhe foi oferecido, já não é o seu». É uma opinião, mas já não é a primeira vez que a hipótese de um regresso a Portugal, leia-se ao Estoril, é colocada pelos media espanhóis.
Em 2015, o jornal espanhol ABC deu conta de que a Câmara de Cascais teria feito diligências para o Rei Emérito espanhol voltar ao Estoril, oferecendo-lhe inclusive, uma casa de verão. A hipótese teve ecos na imprensa portuguesa. Foi há cinco anos, meses depois de Juan Carlos I ter abdicado do trono a favor do filho, Felipe VI. Nada se concretizou e contactado pelo SOL, o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, esclareceu que «essa notícia correu na altura, mas nunca fomos contactados por nada nem ninguém». Ou seja, não houve diligências. E agora? Também não há. «Este é um assunto que a nós não nos diz respeito. Não temos nada a fazer sobre isso», começou por explicar o autarca e social-democrata. Contudo, Cascais recebê-lo-á, caso seja essa sua vontade. «O Rei Emérito Juan Carlos é um cidadão de Cascais, que aqui viveu durante largos anos, que cá mantém muitos amigos e que de alguma forma é acarinhado ainda hoje em dia. Isso é verdade. Se for essa a opção dele e da Casa Real Espanhola, por Cascais, obviamente que o receberemos com toda a amizade», garantiu ao SOL Carlos Carreiras.
Recorde-se que há sensivelmente duas semanas o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve em Madrid e reuniu-se com Juan Carlos.
A ligação ao Estoril
O Rei Emérito espanhol nasceu a 5 de janeiro de 1938 em Roma, Itália, uma vez que a sua família se encontrava no exílio desde 1931, após a proclamação da Segunda República em Espanha. Aos oito anos, a família real espanhola vem para Portugal, tendo -se estabelecido no Estoril na Villa Giralda. Juan Carlos passou parte da sua infância e juventude no concelho de Cascais.
Na história desta família há ainda um momento trágico, a morte do irmão mais novo de Juan Carlos, Alfonso. Terá sido vítima de um disparo de arma de fogo acidental aos 14 anos. Apesar da tragédia, o Rei Emérito de Espanha também passou momentos felizes no Estoril e terá ganho também aí a paixão pela vela.
Em outubro de 2017, o SOL recordava o palmarés de Juan Carlos, então com 79 anos: foi 12 vezes campeão da Copa de Espanha, 11 vezes vencedor do Troféu Conde de Godó e seis vezes vencedor da Copa do Rei. A sua primeira prova terá sido aos 11 anos, numa regata entre Lisboa a Sesimbra (de acordo com o livro ‘O Rei e o Mar’, da autoria de Ignacio Gómez-Zarzuela), tendo vencido a prova. Juan Carlos chegou ainda a participar nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, conseguindo o décimo lugar.
O que levou Juan Carlos a abandonar Espanha?
O Rei emérito anunciou, esta segunda-feira, que vai deixar de viver na Zarzuela, segundo um comunicado de Juan Carlos, tornado público pela Casa Real.
O próprio admite que esta decisão se deve à "repercussão pública que estão a gerar certos acontecimentos" do seu passado e Juan Carlos não quer que estes afetem a Coroa e quer deixar o seu filho cumprir as suas funções "com a tranquilidade e o sossego" que a função de Rei exige.
O Rei emérito está a ser investigado sobre os alegados fundos que detém em paraísos fiscais. O El Español revelou vários documentos que parecem comprovar a transferência de 100 milhões de dólares (cerca de 65 milhões de euros) do Ministério das Finanças da Arábia Saudita para Juan Carlos, no ano de 2008, através de uma conta desconhecida, criada no Banco Mirabaud, uma instituição bancária privada com sede em Genebra, na Suíça.
Parte deste dinheiro serviu como comissão para o rei por ter servido de intermediário para a adjudicação a um consórcio de empresas espanholas do comboio de alta velocidade entre as cidades sauditas de Medina e Meca, no entanto, este dinheiro nunca passou por Espanha.
Além disso, antes de encerrar a conta, em 2012, Juan Carlos terá assinado uma transferência de 65 milhões de euros para Corinna Larsen, a sua, alegada, ex-amante. Mais uma decisão que gerou polémica em volta do rei emérito.