por Francisco Rocha Gonçalves
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Oeiras
Antes de serem eleitos, o discurso antissistema é parecido: “corrupção generalizada”, “Estado gordo”, “vergonha”, “basta” e “chega”. O facto de explorarem algumas das fragilidades das democracias, e os descontentamentos decorrentes dos problemas económicos e sociais da globalização (de pendor mais financeiro que político) dá, aos novos populistas, a sua base de apoio. A base pode ser suficiente para ganhar eleições, como a Trump ou a Bolsonaro, ou para fazer caminho e ir ganhando poder, como com Salvini, em Itália.
O traço comum da generalidade dos governos populistas, ou com influência populista, é o da sua imensa incompetência. A negação da realidade a que se habituaram, e o próprio discurso simplista e simplificador, fá-los embarcar em soluções rápidas, ou mágicas, para problemas complexos. Habituados a simplificar a realidade, não conseguem transformar questões complexas em discurso político.
Sem querer fazer de Trump ou Bolsonaro os bombos da festa, a verdade é que ambos concorrem nesse sentido por impulso próprio. Quer Trump, quer Bolsonoro, expuseram-se à exaustão com o surgimento da pandemia. Um problema como este que vivemos é complexo, não há a tal solução fácil que os populistas promovem.
Veja-se, em Portugal, o popularucho “Chega/Basta”. Durante a campanha eleitoral o seu programa defendia absurdos como a extinção do serviço nacional de saúde ou da educação pública, numa combinação de primarismo populista com o irrealismo da cartilha neoliberal.
Imagine-se Portugal seguindo a deriva do programa do “Chega/Basta” no cenário de uma pandemia como o que enfrentamos. Recorde-se que, no início do estado de emergência, o nosso maior problema residia na falta de camas em unidade de cuidados intensivos e, consequentemente, falta de ventiladores para cenários de evolução pandémica mais graves.
Parece haver uma certa vergonha de dizer que as propostas populistas que vêm sido oferecidas não são mais do que oportunismo politicamente desonesto, para apanhar os tolos e os zangados com o regime.
O surgimento das redes sociais, e a fragilização do poder mediador da imprensa, associado a uma certa falta de vergonha de se ser publicamente imbecil naquelas redes, cria o caldo de cultura para a propagação dos populismos.
Paralelamente, a doutrina do politicamente correto impede muita gente de verdadeiramente expor os oportunistas. As contradições são tantas que não seria possível descrever todas neste artigo. Todavia, aqui fica um breve resumo: Não se pode defender posições em teses científicas e, mais tarde, defender o seu inverso politicamente. Não se pode assumir uma posição moralista, prometendo exercer um cargo público em exclusividade e, depois, fazer o contrário, sem qualquer pudor. Não se pode defender um combate sério à evasão fiscal, mas trabalhar com escritórios de advogados especialistas em “ajudar” a pagar menos impostos.
Tudo isto passa demasiadas vezes em claro. Mesmo a comunicação social vai preferindo dar voz ao “megafone”, escrutinando (salvo raras exceções) muito pouco.
Todavia, quando governam, os resultados ficam à vista de todos, seja na degradação dos regimes, como nos EUA e no Brasil, ou nos maus resultados económicos (o autoelogio não conta como resultado).
O populismo é um veneno, que se alimenta da preguiça dos cidadãos na procura da informação das sociedades atuais (a procura da informação é sobretudo um dever de cidadania) e das fragilidades dos regimes democráticos, particularmente com a sobreposição da economia (e das finanças) à Politica.
Todavia, se os norte-americanos e os brasileiros já sabem os efeitos do populismo, importa que os portugueses aprendam com os erros alheios, de modo a evitar cometer os mesmos erros. Como veneno que é, o populismo só funciona se nós nos dispusermos a tomá-lo…