O dr. António Costa prolongou, numa extensa entrevista, os benefícios da anestesia.
Não têm certezas os cientistas, os economistas não sabem como fugir do destino anunciado, ninguém sabe quanto vai durar a penosa crise.
Porém, é preciso governar. E aí está ele a fazê-lo em sofrimento.
A arte do discurso não será dizer que corre tudo bem, mas desvalorizar os pontos negativos.
E, principalmente, deixar no ar aquela inteligente dúvida sobre se alguém poderia fazer melhor.
É aí que entra a austeridade como palavra mágica.
Funciona como uma fronteira entre o mal e o bem.
Convinha, talvez, ir um pouco mais longe, saber o que significa em cada circunstância.
Na situação vivida em tempos de troika a perceção que ficou é a do aumento de impostos, corte nos rendimentos, redução dos serviços públicos, explosão do desemprego.
E hoje, perante o cenário atual, o que é a austeridade?
Para as empresas é simples: é manter a mesma carga fiscal sem atender à redução forçada da sua atividade, é desenhar mecanismos insuficientes de apoio à manutenção do emprego, é não perceber como o crédito é difícil ou impossível.
Sabemos que a esquerda esquerda se preocupa muito pouco com a saúde das empresas e, se algum esforço se tolera, é para com as micro e pequenas empresas.
As outras são o capital inimigo.
Ora, a verdade é que, não existindo atividade económica, o caminho é o fecho ou a redução da força de produção.
Logo, o reflexo da austeridade nos trabalhadores é a sua dispensa ou a diminuição dos salários. Assim, austeras são as medidas que não asseguram o pagamento de salários por inteiro ou que não conseguem evitar o desemprego.
Constitui, portanto, uma falácia exigir a manutenção dos postos de trabalho em qualquer caso sem que os dinheiros públicos sejam suficientes para a ajuda.
A austeridade é a medida da escassez.
Nos serviços públicos a questão é outra.
Será, mais precisamente, o nível a que são prestados.
Desde logo a saúde e o seu acesso.
Em tempos de pandemia, compreende-se a alocação máxima de recursos à sua resposta.
A questão que se coloca a seguir é como garantir a prestação dos outros serviços essenciais.
Se a austeridade for a regra, a resposta situa-se no nível mínimo dos serviços. Reduz-se o acesso aos centros de saúde, às consultas e demais serviços hospitalares, aos programas de prevenção e controle.
A não-austeridade significa, pelo menos, a manutenção das respostas sem restrições.
Portanto, quem está do lado do bem e se tem sentido confortável só pode exigir mais e fingir que a austeridade remanescente é uma ilusão de ótica.
Antes destas inusitadas férias, convinha ao dr. Costa lançar o repto do entendimento a quem mais lhe interessa.
Nos tempos da brasa, no momento do consenso europeu, multiplicaram-se os contactos com os vários governos europeus socialistas e conservadores. Foi apesar de tudo, importante o PSD. Não podia o primeiro dos ministros ser mais claro quanto ao ponto de acordo sobre a opção europeia. Parecendo que não, é essencial mas é mais útil governar com quem a ela se opõe.
A partir daqui o PSD é o partido dos velhos do Restelo que nem o hidrogénio quer.
Velhos e austeros não contam.
Venham a juventude ideológica do PCP, a prodigalidade histórica do Bloco e a sensibilidade animalista do PAN.