No dia 17 de dezembro de 1916, Grigori Rasputine foi convidado para uma pequena vernissage. Claro que todos os participantes sabiam de antemão que iriam sair de lá bêbados como cachos, mas não havia sequer um a pensar que pudesse ser envenenado. Ou melhor, os ideólogos da tramoia decoraram ao milímetro o que estaria para acontecer. Pelo menos um pouco. Porque o que sucedeu foi algo de inimaginável.
O príncipe Felix Yusupov, um travesti bissexual de 29 anos, tinha o cérebro a ferver de manigâncias e de raiva. Não era o que se pudesse chamar de parceiro recomendável. Tirara uma graduação em Oxford, da qual se gabava larga e insuportavelmente, era filho da mulher mais rica da Rússia ainda sob o império dos Romanov, e estava casado com uma sobrinha do czar Nicolau II, Irene de seu nome. Tudo nele era repelente, mas não nos esqueçamos de que estamos a falar de uma corte na qual o grotesco era não apenas aceite, mas sobretudo fundamental para alegria de pessoas de cérebros muito infantilóides.
Felix conseguiu convencer o grão-duque Dmitry Pavlovich, primo direito do czar, e Vladimir Purishkevich, um monárquico antissemita de ideias profundamente racistas, de que matar Rasputine seria a salvação da Rússia monárquica e um passo fundamental para a segurança da nação. Nessa altura, já ninguém tinha dúvidas de que o sinistro Rasputine, natural da plebeia terriola de Pokrovskoye, na Sibéria, era amante da czarina Alexandra. De Alexandra e de mais umas poucas de dúzias de senhoras da corte que não resistiam ao seu encanto místico na hora de se aproximarem da alcofa. Aliás, o priapismo de Gregori era famoso em toda a Sampetesburgo, cidade que se tornara numa espécie de atração sexual para tudo quanto era membro das grandes cortes da Europa. Muito se escreveu e continuará a escrever sobre a morte de Rasputine, e as motivações lúbricas não podem ficar de fora da equação. Adiante…
Para Felix, libertar Alexandra, e depois dela Nicolau e os cinco filhos do casal, da influência desse mago que parecia saber de cor o que se iria passar no futuro, significava a sobrevivência da própria Rússia. E deitou mãos à obra com um ódio indizível. A Rasputine caberia a morte, sem escrúpulos; a Alix (como tratava a czarina), caberia um quarto requintado no melhor hospício da capital do país.
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