A Coreia do Sul enfrenta um dos maiores surtos de covid-19 desde o início da pandemia e a sua origem está em diversas igrejas.
Foram detetadas mais de 183 pessoas com coronavírus em Seul e todas estas infeções estão ligadas à igreja presbiteriana Sarang Jeil. O seu líder, Jun Kwang-hun, também está entre os infetados. Esta é uma parte de um total de 457 infeções neste novo surto na Coreia do Sul. As autoridades locais descreveram estes novos casos como “o maior surto que a capital enfrentou até agora durante a pandemia de covid-19”.
“Até à meia-noite de segunda-feira identificámos cerca de 4 mil pessoas ligadas a esta igreja. A maioria delas são residentes em Seul”, disse o diretor-geral do Centro Coreano para o Controlo e Prevenção de Doenças Infeciosas (KCDC), Kwon Jung-wook, que acrescentou que o facto de existirem seguidores da igreja Sarang Jeil em diferentes partes do país aumenta a possibilidade de “uma expansão a nível nacional”.
O caso da igreja Sarang Jeil (Amor Máximo) é especialmente polémico desde que o seu líder, Jun Kwang-hun, decidiu liderar os seus fiéis no último sábado numa manifestação contra o Governo sul-coreano, apesar de vários membros da congregação terem testado positivos para a covid-19 e de as autoridades terem solicitado o seu confinamento.
Jun, de 64 anos, é conhecido por lançar críticas severas e mensagens de ódio contra o atual Governo liberal sul-coreano e contra as comunidades muçulmanas e LGTBI.
Peso da religião Descrito pelo New York Times como “o pastor populista que lidera o revivalismo conservador na Coreia do Sul”, Jun Kwang-hun, presidente do Conselho Cristão da Coreia e figura-chave no Christian Liberty Unification Party, testou positivo para a covid-19 na sexta-feira passada.
Jun, ativista da extrema-direita, liderou milhares de seguidores, na segunda-feira, num protesto contra o Governo de centro-esquerda de Moon Jae-in, onde serviu como orador, apesar dos apelos para se evitarem grandes aglomerações devido ao coronavírus.
Milhares de membros desta igreja foram colocados em confinamento e cerca de um em cada seis fiéis testou positivo para a infeção, disse o vice-ministro da Saúde sul-coreano, Kim Gang-lip.
“Estamos a enfrentar uma crise que, se a atual propagação não for controlada, pode causar uma subida exponencial de casos, o que, por sua vez, pode levar ao colapso do sistema médico e a grandes danos económicos”, disse o diretor do KCDC.
Este é o segundo maior surto que a Coreia do Sul sofre desde fevereiro, quando ocorreram os contágios ligados à igreja cristã Shincheonji, na cidade de Daegu, que levaram a mais de 5 mil infeções.
O líder da igreja Shincheonji, Lee Man-hee, de 88 anos, foi detido no início deste mês após a emissão de um mandado pelo Tribunal Distrital de Suwon, acusado de fornecer às autoridades de saúde registos imprecisos das reuniões na igreja e listas falsas de membros.
Esta seita esteve no centro do surto de coronavírus na Coreia do Sul em fevereiro, uma vez que mais de metade das pessoas a ela ligadas estavam entre os casos registados no país.
O religioso foi acusado pelas autoridades de ser responsável por “tentativas sistemáticas de destruir provas”.
Desde o início da pandemia, a Coreia do Sul registou 15 761 infetados e 306 mortes.