O Estado gastou 4,5 milhões de euros na aquisição de um novo e moderno sistema de 12 drones para vigiar as florestas durante o período crítico de incêndios – este ano entre 1 de julho e 30 de setembro –, mas, até ao momento, ninguém sabe dele. Os Ministérios do Ambiente e da Defesa e a Força Aérea (as três entidades envolvidas no processo de aquisição das aeronaves) não se entendem quanto ao início das operações. Depois de vários prazos falhados, a Força Aérea admite agora 31 de agosto como a data provável para que os drones estejam no ar. Mas mesmo que o calendário seja, desta vez, respeitado, nessa altura já terão passado pelo menos dois terços da fase mais crítica dos fogos.
Os 12 aparelhos não tripulados, com capacidade para cobrir um maior raio de ação, foram apresentados com pompa e circunstância pelo Ministério do Ambiente no dia 11 de maio. Sete dias depois, o Conselho de Ministros autorizou a aquisição dos drones pela Força Aérea (entidade tutelada pelo Ministério da Defesa), através de um concurso público com caráter de urgência. Na apresentação, o ministro João Pedro Matos Fernandes apontou o dia 1 de julho (logo no arranque da época dos incêndios) para que se começassem a utilizar as aeronaves. A previsão falhou e, no dia 17 de julho, foi a vez de o ministro João Gomes Cravinho anunciar novas datas: dois drones a voar a 21 de julho, desde a base da Lousã, e mais quatro dez dias depois (dois a partir de Fóia e outros dois de Macedo de Cavaleiros). Os prazos, porém, voltaram a não ser cumpridos.
Ao SOL, fonte da Força Aérea confirmou a nova data para o início da utilização dos drones: 31 de agosto, a apenas um mês do final da época de incêndios. Ao conjunto de questões colocadas sobre os atrasos, mas também sobre o concurso público, os testes que estarão (ou não) a decorrer ou a gestão do sistema de drones no terreno, a Força Aérea nada respondeu até ao fecho desta edição.
Contactado pelo SOL, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Marta Soares, admite que "a compra dos drones foram uma surpresa para os próprios bombeiros, uma vez que existia, na altura, necessidades para combater os incêndios que pareciam ser bem mais prioritárias". O dirigente refere que, na altura do anúncio, foi informado pelo Governo "que este investimento já estava destinado às florestas e à prevenção, e não ao combate aos incêndios". "Não podíamos, por isso, fazer mais nada. Ficámos expectantes para ver o resultado desta nova tecnologia, e quais as melhorias que ela poderia trazer, mas, efetivamente, passados todos estes meses, ainda não vimos nada desta ferramenta", acrescenta.
O presidente da LBP lamenta que, depois de tanta expectativa, os drones continuem por aparecer. "Estes aparelhos, na prática, já não vão dar um grande contributo a esta época de incêndios", diz. E deixa ainda críticas às opções do Governo para os planos deste ano para o combate aos fogos: "A verdade é que não foram feitos os investimentos que eram necessários para a área do combate aos incêndios. E depois ainda verificamos esta situação dos drones. Temos de concluir que, uma vez mais, as prioridades não foram bem definidas, e a preparação também não".
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