A guerra interna entre RTP e comissão de trabalhadores (CT) continua. Um dos pontos polémicos diz agora respeito ao facto de a CT mostrar-se contra a opção do canal público de televisão de continuar a realizar programas que promovem ajuntamentos nas localidades do interior do país, ignorando o contexto pandémico. Questionado pelo SOL, a empresa pública garante que a «RTP tem um plano de contingência para cada programa que faz no exterior» e acrescenta que «todos os programas são assegurados por um responsável de higiene e segurança no trabalho».
Uma resposta que não satisfaz a estrutura que representa aos trabalhadores ao afirmar que continua a aguardar esclarecimentos por parte do conselho de administração.
Em causa está o programa Sete Maravilhas, que, segundo a CT, representa há algum tempo, «motivo de preocupação para os trabalhadores da RTP em geral e para aqueles e aquelas, em especial, que trabalham em exteriores». E alerta: «Têm sido várias as vozes (entre elas, a nossa) a advertir contra a imprudência de promover ajuntamentos em localidades do interior do país, com os curiosos a acorrerem e a fazerem, para nós, o papel de figurantes pro bono. E têm sido várias as vozes a advertir que ser imprudente com o público anda geralmente a par de ser imprudente com os trabalhadores», lê-se na nota.
Os trabalhadores alertam que, recentemente, a vila de Mora, no Alentejo – atualmente, palco de um dos surtos mais preocupantes de covid-19 no país –, acolheu o programa Rota N2, com as mesmas características, e embora afirmem que «certamente não foi o Rota N2 a levar o coronavírus para Mora», não deixam agora de desejar «que também não esteja a trazê-lo de lá», dando a entender que os profissionais que estiveram naquela localidade podem, eventualmente, ter estado expostos ao vírus.
«Mas certezas e esperanças destas dependem da sorte e, jogando à roleta russa, ninguém tem sorte toda a vida. Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele», afirma a Comissão de Trabalhadores.
Na mesma missiva, os trabalhadores da RTP denunciam ainda o que consideram ser uma reavaliação incorreta dos colegas que estariam incluídos no grupo considerado de risco. A CT refere que a reavaliação da medicina do trabalho «deve obedecer única e exclusivamente a critérios clínicos» e que «um médico não tem de preocupar-se com a falta de repórteres de imagem ou de técnicos de som ou de qualquer outra profissão».
A Comissão de Trabalhadores exige que seja dada preferência pelo teletrabalho para as pessoas incluídas no grupo de risco, sempre que possível, e que, ao emitir o seu parecer, a medicina do trabalho tem de assumir por escrito a opção de manter ou retirar uma pessoa em grupo de risco, assumindo as suas responsabilidades.
Outros conflitos
A possibilidade da jornalista Cândida Pinto possa ser de novo integrada nos quadros, depois de, supostamente, ter ficado com uma avença de 9 mil euros também está a causar mal estar interno, apurou o SOL.
Em relação a esta matéria, a Comissão de Trabalhadores, diz apenas que « a este propósito questionámos o conselho de administração, até este momento não obtivemos qualquer resposta», diz a estrutura ao SOL.
Já a administração do canal público garante que é «falso».
Recorde-se que a jornalista deixou, em 2018, a SIC para acabar por assumir a equipa de Maria Flor Pedroso, que entretanto foi destituída.
Uma situação que levou o vogal da Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC) João Pedro Figueiredo a manifestar-se preocupado com a instabilidade nas direções de informação da RTP, numa declaração de voto que acompanhou a votação sobre a destituição da equipa de Maria Flor Pedroso. «Observo com muita preocupação a instabilidade em que ultimamente incorrem as direções de informação da RTP perante manifestações de interesses mal esclarecidos ou eventualmente ilegítimos», referiu, no início deste ano.
A nova direção de informação da televisão pública acabou por ser liderada por António José Teixeira e que tem Carlos Daniel, Hugo Gilberto e Joana Garcia como diretores-adjuntos de informação.
António José Teixeira tinha sido indigitado no passado dia 7 de janeiro para diretor de informação da televisão pública, 15 dias depois de a ERC ter ‘chumbado’ a proposta de José Fragoso, que acumularia esta direção com a de programas. Em dezembro, a RTP tinha proposto a acumulação da direção de informação e de programas da RTP1 e RTP Internacional nas mãos de José Fragoso, mas o regulador dos media deu parecer negativo.