Os jornalistas da agência Lusa que estão em teletrabalho foram convidados a assinar um aditamento aos respetivos contratos de trabalho que prevê a possibilidade de receberem visitas nas próprias casas, por forma a que a entidade patronal possa controlar a atividade dos profissionais e a forma como têm utilizado os meios de trabalho disponibilizados pela agência de notícias. «A Lusa poderá solicitar a deslocação ao domicílio da trabalhadora, por forma a controlar a sua atividade, bem como a respetiva utilização dos instrumentos de trabalho, entre as 09h00 e as 19h00, com a assistência da trabalhadora e com um aviso prévio de pelo menos 24 horas», refere a polémica alínea.
A exigência da administração da Lusa, presidida pelo jornalista Nicolau Santos, motivou uma enxurrada de queixas e de pedidos de esclarecimento ao Sindicato dos Jornalistas (SJ) e ao Sindicato dos Trabalhadores e Técnicos de Serviços, Comércio, Restauração e Turismo (Sitese). A esmagadora maioria dos trabalhadores da Lusa classificou esta exigência como «abusiva».
O novo texto do contrato de trabalho foi, entretanto, analisado pelos advogados do SJ e do SITESE, que consideraram as cláusulas «excessivas, mesmo, tendo em conta que todas as matérias estão já previstas na lei geral do trabalho». As estruturas sindicais comprometeram-se junto dos jornalistas a «enviar à administração da Lusa uma súmula das dúvidas e reservas levantadas pelos trabalhadores», embora reforcem que «os trabalhadores devem questionar diretamente a empresa pela opção tomada e pelo respetivo timing» deste pedido.
Ao SOL, fonte da Lusa esclareceu que este expediente «é algo que está previsto na lei geral em contexto de teletrabalho e que foi decidido ser reproduzido pelos serviços jurídicos» da empresa. A mesma fonte garante, porém, «que nunca nenhum trabalhador foi, até ao momento, visitado na sua própria casa por ninguém da Lusa e que, provavelmente, nunca o será».
No meio deste clima de agitação, a administração da agência decidiu fixar uma data para o regresso à redação. Em nota interna, a que o SOL teve acesso, a administração refere que «o regresso ao trabalho na sede da Lusa, em Lisboa, e nas delegações vai efetivar-se a partir do dia 1 de outubro».