Não há sobressaltos, mas a epidemia de covid-19 parece estar a entrar numa nova fase. De acordo com a última análise da curva epidemiológica publicada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, nos últimos cinco dias de agosto o RT nacional, o indicador que calcula a taxa de reprodução do vírus e dá uma ideia da tendência da epidemia, situou-se em 1,14. Tinha sido ligeiramente superior no período anterior, pelo que parece haver alguma constância, mas a tendência da covid-19 em Portugal é de crescimento. O RT está a cima de 1 desde 5 de agosto.
Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, diz que o aumento de casos ainda em agosto foi de certa forma inesperado, ainda que haja alguns motivos que poderão ter contribuído para tal, como a abertura do corredor turístico do Reino Unido e também alguns casos entre emigrantes, além da movimentação das pessoas nas férias. Portugal chegou a registar um número de casos diários na casa dos 150 e tem havido agora uma média na casa dos 300. A perspetiva será um aumento nas próximas semanas, com o regresso ao trabalho e escolas. Falar de primeiro ou segunda vaga é no entanto mais um exercício semântico do técnico, diz Mexia, uma vez que o país continuou sempre a registar novos diagnósticos.
O número de casos ativos volta agora a estar acima dos 15 mil, o que já não acontecia desde maio (no início do verão rondavam os 12 mil). Ainda assim, o número de doentes internados tem estado até abaixo do que eram as perspetivas dos peritos. Esta sexta-feira havia 339 doentes internados nos hospitais do SNS, 40 dos quais em cuidados intensivos. O epidemiologista Manuel Carmo Gomes, um dos peritos que dá apoio técnico à Direção Geral da Saúde e ao Ministério da Saúde na resposta à covid-19, chegou a antecipar uma subida dos internamentos para a casa dos 600 doentes, o que acabou por não acontecer nas últimas semanas.
Peritos voltam a ser ouvidos, agora no Porto e em direto
Esta segunda-feira serão retomadas as chamadas reuniões do Infarmed que juntam especialistas, Governo e partidos, desta vez não no Infarmed mas na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. A primeira parte do encontro, em que será traçado o panorama epidemiológico nacional e apresentadas novas análises sobre os contextos de transmissão da doença no país, será agora pública e transmitida online. O programa inclui um ponto de situação sobre o inquérito serológico nacional, o estudo de caso-controlo (que visa perceber por exemplo se houve casos associados aos transportes públicos), a app StayAway Covid e uma futura vacina. Haverá também apresentações sobre a covid-19 nas crianças e os desafios do regresso às aulas. A leitura deverá contribuir para a definição das medidas para a semana seguinte, em que o Governo já anunciou que o país volta ao estado de contingência. Para já, os gráficos do INSA sugerem que o ano letivo deverá arrancar com um índice de transmissão da doença superior ao que se registava em maio, quando começou o desconfinamento. A situação não é igual em todo o país. A tendência de aumento de casos, com base no RT, é agora maior no Norte e no Centro. Em Lisboa, onde o RT diminuiu no verão, está também acima de 1 nas últimas duas semanas. Ainda de acordo com o boletim semanal do INSA, o RT é inferior a 1 apenas na região do Alentejo, onde se situa em 0,93. No Norte é de 1,2, na região Centro de 1,31, em Lisboa de 1,1 e no Algarve de 1,16.