Rui Pinto chegou esta sexta-feira ao TribunalCentral Criminal de Lisboa, no Campus de Justiça, para o início do seu julgamento, rodeado por uma forte operação de segurança. Muitos agentes de várias forças especiais da Polícia de Segurança Pública (PSP) foram distribuídos por pontos diversos do Campus de Justiça, com o objetivo de garantir todas as medidas de proteção necessárias.
O julgamento começou ligeiramente atrasado, um pouco depois das 10h da manhã – início estava previsto para as 9h30 –, mas o pirata informático, acusado pelo Ministério Público (MP) de 90 crimes, entrou no tribunal e depôs, reafirmando que não se considera um hacker e que nada do que fez foi por dinheiro. «Estou aqui neste tribunal numa situação estranha: por um lado, como arguido e, por outro, como testemunha protegida integrada num programa do Estado português. Como sempre disse, não me considero um hacker. Sou um denunciante ou whistleblower, porque tornei pública, em total boa fé, muita informação de manifesto interesse público nacional e internacional que, de outra forma, nunca seria conhecida. Além disso, nunca recebi qualquer verba pelas informações que revelei», começou por declarar, confessando que aquilo que fez é, para si, um motivo de orgulho. «Colaborei também com várias autoridades estrangeiras, e encontro-me a colaborar ativamente com as autoridades portuguesas, que me encorajaram nesta colaboração, e espero continuar a fazê-lo no futuro. As revelações de graves irregularidades e crimes são para mim motivo de orgulho e não de vergonha. Vejo hoje que há importantes inquéritos criminais que foram iniciados graças a essas revelações e confio que serão muitos mais», disse.
Já um dos advogados de Rui Pinto no processo Football Leaks, Francisco Teixeira da Mota, sublinhou que o julgamento se faz dentro da sala de audiências: «Neste país, ainda há um regime que, em muitos aspetos, tem de ser alterado quanto ao combate à corrupção e quanto à justiça criminal. Como é evidente, já houve muita gente que protestou, porque há muitos interesses que não têm interesse em que haja um combate à corrupção».
Acusado de coautoria de tentativa de extorsão à Doyen, Aníbal Pinto, também advogado de Rui Pinto, defendeu que não há outra hipótese que não a absolvição. «Vou desmontar a acusação do MP ponto por ponto. Vou esclarecer tudo da parte da tarde ao tribunal. A minha estratégia de defesa é muito simples: dizer a verdade e tudo o que digo está documentado. O MP tem de ler os documentos», atirou.