Catorze distritos de Portugal continental encontram-se em estado de alerta até às 23h59 de amanhã e o mês de setembro prevê-se quente. Mas o agosto que passou já se revelou de muito trabalho para os bombeiros. Que o diz é o presidente da Liga dos Bombeiros. Com a certeza de que a “floresta está cada vez pior” e que os bombeiros continuam sem material suficiente para combater os fogos, Jaime Marta Soares mostrou ao i a sua indignação perante aquilo a que tem assistido. “A nossa floresta cresce selvaticamente, sem qualquer planeamento ou ordenamento. Isso que dizem é tudo mentira. Não posso ver, como eu assisto, juntas de freguesia, particulares ou entidades públicas a alugar terrenos para a plantação de eucaliptos sem fazerem o mosaico florestal”, começou por dizer, sublinhando que, apesar de 2020 se apresentar até à data com o número mais reduzido de incêndios florestais da última década, a área ardida aumentou de forma significativa.
“Oiço muitos a dizer que há menos área ardida. Mas já vamos em quase 50% de área ardida a mais do que no ano anterior. Estejam calados. Digam o que é possível fazer, dentro das capacidades e carências do país. Que digam isso e que se calem, porque não há mérito nenhum da parte dos políticos”, atirou Jaime Marta Soares, que receia a existência de fogos semelhantes ao que aterrorizou Pedrógão Grande em 2017.
À procura de respostas por parte do Governo, Jaime Marta Soares reforçou ainda o facto de os bombeiros não terem informações concretas no que respeita à contaminação por covid-19 na altura de socorrer alguém.
“Temos de saber em que estado está a pessoa que vamos socorrer. Defendemos a preservação de dados, mas há uma pessoa a morrer e temos de a salvar. Os bombeiros têm de saber se a pessoa que vão salvar está ou não está contaminada. Mas que raio de país é este? Porque é que a própria Direção-Geral da Saúde não dá ordens para os bombeiros e não dizem logo? Isto é a pandemia da estupidez! A criar situações difíceis àqueles que arriscam a vida. Nós somos os mesmos que estamos no terreno há centenas de anos. Se não formos para o terreno, quem é que vai?”, questionou, realçando a importância dos bombeiros e que deve ser criada uma agência própria para estes profissionais.
“Deve ser criada uma agência de bombeiros com poder efetivo até para contrariar a incompetência da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). É um nado-morto. É um elefante branco. Existe para quê? Ainda hoje li que há aviões da Força Aérea a detetar os incêndios a pedido da GNR. Não está em causa a GNR. É uma instituição altamente respeitável. Então e onde é que está a ANEPC? É esta situação para a qual este país está a precisar de encontrar respostas com eficácia”, rematou.
Força Aérea suspende drones
Os equipamentos para vigiar e combater os incêndios rurais foram suspensos na sequência da queda de um drone da Força Aérea alocado à Base Aérea de Beja, em Alcácer do Sal, distrito de Setúbal. A ANEPC já ressalvou que esta suspensão não representa qualquer limitação na vigilância dos fogos, mas o presidente da Liga dos Bombeiros quis deixar clara a importância das aeronaves não tripuladas.
“Os drones são uma ferramenta que está em cima do acontecimento e vê tudo. Tenho muito respeito pela Força Aérea, mas se não há dinheiro, não apostem. Porque se gastou dinheiro nos drones? Se não se tinha capacidade de resposta, para que se fez isso?”, questionou.