«Morgen ist die Frage», amanhã é a questão, o banner do tailandês Rirkrit Tiravanija afixado na fachada do Berghain, em Berlim, poderia não ser mais do que isso. Afinal, há seis meses que, como os outros clubes de Berlim, como tantos clubes europeus, aquele que é considerado a Meca do techno está de portas fechadas por força da pandemia de covid-19. Com a ameaça de uma segunda vaga que já se vai fazendo anunciar por alguns países europeus, pouco provável será que voltem nos próximos meses a formar-se as intermináveis filas de que até quem nunca visitou o mais emblemático espaço dedicado à música eletrónica de Berlim terá já ouvido relatos.
Pois sem as intermináveis noites e afters que o celebrizaram, o Berghain reabriu portas, e reabriu já na passada quarta-feira, ainda que não nos moldes em que funcionava habitualmente desde a sua inauguração em 2004, numa segunda vida do lendário Ostgut, na antiga central elétrica na zona de fronteira entre os bairros de Kreuzberg e Friedrichshain. O Berghain está de novo de portas abertas, sim, mas reconvertido para já em galeria de arte: Morgen ist die Frage é afinal apenas uma das obras que integram Studio Berlin.
Uma exposição coletiva a reunir trabalhos de 115 artistas internacionais a viver em Berlim produzidos na cidade durante o confinamento. Uma exposição a percorrer as mais diversas formas de expressão artística – fotografia, escultura, pintura, desenho, vídeo, som, performance e instalação – que, com a participação de artistas como Wolfgang Tillmans, Sandra Mujinga, Tacita Dean, Christine Sun Kim, Shirin Sabahi, Olafur Eliasson, entre muitos outros, resulta de uma colaboração entre o Berghain e a Sammlung Boros, a coleção de arte privada de Christian Boros e da sua mulher, Karen, acolhida pelo Bunker da II Guerra Mundial onde na década de 1990 funcionou o primeiro clube dos proprietários do Berghain. E que surge integrada na edição de 2020 da Berlin Art Week, um megaprograma artístico que junta ao longo de cinco dias 20 instituições, duas feiras de arte, dez espaços de projetos e 13 coleções de arte privadas.
O_objetivo da Studio Berlin foi, segundo Christian Boros, citado pelo Guardian, «passar a mensagem de que a vida cultural de Berlim continua bem viva». As receitas das entradas na exposição revertem para o clube, fortemente afetado pela paralisação a que está obrigado desde março passado.
Apesar da renovada função, as regras do Berghain continuam as mesmas: não é possível fotografar a exposição que percorre o espaço com capacidade para 1500 pessoas. À semelhança do que acontecia com as noites no Berghain, nota ainda Boros, «deixa-se esta galeria com a cabeça cheia de memórias e de ideias, não de imagens para decorar os feeds das redes sociais».