"Há a hipótese de termos detetado organismos vivos nas nuvens de Vénus". O anúncio acaba de ser feito desta forma por Jane Greaves, astrónoma da Universidade de Cardiff. A Real Sociedade Astronómica do Reino Unido (Royal Astronomical Society) confirmou esta tarde a deteção de moléculas de fosfina na atmosfera de Vénus, em quantidades que os investigadores acreditam que poderão ser compatíveis com a existência de vida. Não é muita – 20 partes por milhão – mas a equipa acredita que se os micro-organismos trabalhassem com 10% da eficiência dos terrestres, este seria o resultado. Os investigadores têm defendido que este gás, incolor e tóxico, produzido em ambientes sem oxigénio por exemplo por micróbios – como os seres vivos que respiram libertam metano – pode ser considerado uma bioassinatura de vida extraterrestre. A confirmar-se, há vida fora da Terra. Não é um sinal de vida inteligente, mas é uma das provas mais robustas de vida extraterrestre e já no planeta do lado. O resultado terá de ser confirmado por outras medições. "A Terra também tem vida nas nuvens", lembrou Sarah Seager, membro da equipa. "É transportada da Terra, às vezes durante apenas alguns dias. Na Terra as nuvens não duram muito, mas em Vénus são permanentes".
O astrónomo Carl Sagan foi dos primeiros cientistas a admitir hipótese de poder existir vida nas nuvens de Vénus, que ganhou fôlego nos últimos anos, embora nunca tenham sido detetados sinais diretos de vida. Em 1967, Sagan publicou na Nature, em co-autoria com Harold Morowitz, o artigo "Life in the Clouds of Venus", onde admitiam que embora as condições à superfície de Vénus tornavam a existência de vida (como a conhecemos) improvável, o mesmo não se podia dizer da atmosfera. "Como foi apontado há alguns anos atrás, água, dióxido de carbono e luz solar – os pré-requisitos para a fotossíntese – são abundantes nas proximidades das nuvens. Desde então, houve boas evidências adicionais de que as nuvens são compostas de cristais de gelo no seu topo, e parece provável que existam gotas de água nas zonas baixas. Também existem evidências independentes de vapor d'água. A temperatura no topo das nuvens é de cerca de 210 ° K (-63ºC=, e no fundo das nuvens é provavelmente de pelo menos 260–280 ° K (-13,5 a 6,8ºC). A pressão atmosférica neste nível de temperatura é de cerca de 1 atm.7. O albedo planetário observado cai abruptamente no violeta e no ultravioleta, o que explica a cor amarelo-limão pálido de Vênus. O declínio do albedo não seria esperado para partículas de gelo puro e, portanto, deve ser causado por algum contaminante. Poeira, ozono, C3O2 e outros gases podem possivelmente explicar esses dados, mas, seja qual for a explicação, o fluxo ultravioleta abaixo das nuvens provavelmente será baixo. Se pequenas quantidades de minerais forem levadas da superfície às nuvens, não é de forma alguma difícil imaginar uma biologia indígena nas nuvens de Vénus", escreveram na altura os autores.
Meio século depois, a tese parece ser confirmada pelas observações feitas através do radioelescópio James Clerk Maxwell, situada no no Observatório de Mauna Kea no Havaí, do observatório ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), no Chile. Em 2019, investigadores norte-americanos tinham publicado um artigo que sugeria que Vénus mantém atividade vulcânica, que poderia fornecer nutrientes para eventual vida atmosférica.
Pode acompanhar a apresentação dos resultados nesta página. O artigo com as conclusões da equipa foi entretanto publicado na revista Nature Astronomy.