Tenho a perfeita noção do papel da comunicação social, designadamente da televisiva, na promoção de figuras e na facilitação do uso do populismo.
Junte-se a utilização das redes sociais manipuladas e a administração das ‘fake news’.
Basta ver a grande aquisição que foi Donald Trump, o culto da sua imagem, o seu irreprimível linguajar e a simplificação do pensamento.
É uma proeza artística construir um personagem e vendê-lo.
Há compradores. Os descontentes, os deserdados da sorte, os revoltados, os cansados da vida.
E há um sistema tão perfeito que, no rigor da sua imutabilidade, é lido como capaz de gerar desigualdades, de adiar a justiça, de proteger os grandes devedores.
Portanto, o campo de recusa do sistema e dos remédios milagrosos é uma saída possível.
Será o populismo coutada da direita? Não.
A esquerda seguiu esse caminho quando se cansou da ineficácia do argumento ideológico.
Temos, pois, hoje propostas várias que no campo se encontram.
Não será estranho que numa época de eleições presenciais o recurso se multiplique.
Talvez que o papel do Presidente, no sistema constitucional português, não o torne tão apelativo e eficaz.
O equilíbrio político é a característica principal. O Presidente não governa.
E, por outro lado, o Presidente não é o candidato apresentado por partidos políticos, nasce a sua candidatura da independência.
E certamente que a particular configuração da atual representação política recorde outra exigência.
Para uns, a esquerda governa e o Presidente tolera e protege. Radical será a candidatura por eles proposta.
Para outros, apesar da esquerda governar, ainda não é suficiente. É preciso carregar nas tintas. Extremista é a candidatura por eles defendida.
Para outros, ainda, o socialismo democrático deve governar e deve presidir, deve fazer tudo porque há gente para tudo. É a candidatura dos marginalizados.
Curiosamente, lutam todos uns contra os outros e, na maioria, elogiam a atuação do atual Presidente.
Querem, apenas, uma tribuna, um lugar ao Sol.
A pressão é grande sobre o primeiro dos ministros.
Ele sabe melhor que ninguém como é essencial manter o tal equilíbrio, viver com uns e esperar dos outros, sem outras crises além da que vivemos.
O programa de recuperação do país é o verdadeiro ponto de encontro proposto.
E é, ou foi, tão sincero que, na sua apresentação, verbalizou a interrogação das interrogações.
Como se vai pagar tudo isso? Perguntou.
E explicou a seguir que este e, principalmente, os próximos governos vão ter um trabalho insano para inventar a capacidade de o fazer.
E sabe que a pandemia e as suas condições de desenvolvimento e consequências estão longe de ser vencidas e ultrapassadas.
Está nervoso, precisa de apoios.
Mas é justamente dentro do seu partido que as coisas se complicam.
Há uma narrativa que se tenta afirmar.
O primeiro é um homem só, o partido está dominado e esquecido. Diminua-se a sua força, libertem-se os escravos, limite-se o seu poder.
Abrem-se fendas, na resposta, remodela-se à toa sem resolver o essencial.
Não, como foi dito em momento lilicaneciano, as escolas não são o vírus. São as pessoas que o transportam.
Haja vacina!