A última reunião da Câmara de Almada, na segunda-feira, durou mais de quatro horas, mas foi uma intervenção com apenas alguns minutos sobre os bairros sociais que abriu mais uma polémica com a socialista Inês de Medeiros. A presidente da Câmara de Almada explicava que a política de habitação da autarquia pretende evitar “qualquer guetização” quando garantiu não se importava de viver num bairro social por causa da vista. “Eu própria, amanhã, ia viver para o Bairro Amarelo com aquela vista maravilhosa”, disse a autarca socialista, depois de garantir que Almada “tem este privilégio de ter bairros sociais em espaços maravilhosos com uma vista invejável”.
As afirmações da autarca geraram várias críticas. Joana Mortágua, vereadora na Câmara de Almada, foi uma das primeiras a partilhar o vídeo com a intervenção de Inês de Medeiros e a criticar a posição assumida pela socialista.
“A presidente da Câmara de Almada acha que os moradores dos bairros sociais são uns privilegiados pela ‘vista-rio’ e até diz que não se importava de mudar para o Bairro Amarelo. Isto enquanto justifica a aprovação de um hotel de 5 estrelas no Porto Brandão. Qualquer comentário é redundante”, escreveu, nas redes sociais, a deputada bloquista.
Falta de noção e de respeito Miguel Tiago, ex-deputado do PCP; considerou, nas redes sociais, que a afirmação feita pela autarca de Almada “é grave”. Para o ex-deputado comunista, trata-se de “uma responsável política a anunciar que aquele terreno não é merecido por quem lá mora, é uma presidente da Câmara a anunciar que aquele terreno é para os da sua classe, da sua gente, mas sem a gente que atualmente lá está”.
Do lado do PSD, Duarte Marques escreveu, na sua página do Facebook, que Inês de Medeiros demonstrou falta de respeito pelos moradores dos bairros sociais. “Isto não é muito diferente da conversa dos ‘mamões que vivem dos subsídios’. Imaginem que seria se fossem outros, ou outro, a dizer isto. Isto é a falta de noção e de respeito que representa bem a esquerda caviar”, afirmou o deputado social-democrata.
A polémica nasceu da discussão sobre a “alteração simplificada da Reserva Ecológica Nacional no Porto Brandão”. A proposta que prevê a construção de um complexo turístico foi aprovada apenas com as críticas do Bloco de Esquerda. O vereador Luís Filipe Pereira defendeu que “projetos desta natureza promovem a elitização dos locais” e preferia que a autarquia apostasse em “projetos virados para as pessoas”. CDU e PSD apoiaram a proposta. O social-democrata Miguel Salvado defendeu mesmo que o projeto vai “melhorar aquela zona e criar uma dinâmica à sua volta”.
O caso das viagens a Paris Esta não é a primeira polémica com a autarca socialista. Inês de Medeiros entrou para a política a convite de José Sócrates, em 2009, e assim que chegou ao Parlamento foi muito criticada por causa do caso das viagens a Paris. Inês de Medeiros morava em Paris e, apesar de ter sido eleita pelo círculo de Lisboa, colocou-se a hipótese de o Parlamento pagar uma parte da viagem semanal.
A então deputada socialista acabou por prescindir da comparticipação com críticas aos que “querem transformar a política num permanente circo demagógico”.