O programa de reestruturação do Banco Montepio já está nas mãos do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, sabe o SOL. Esta é uma das condições exigidas para que a instituição financeira possa ter estatuto de empresa em reestruturação, o que permite a quem aceite a rescisão por mútuo acordo ter direito ao subsídio de desemprego. E com isso avançar com o seu plano de fecho de balcões e redução de número de trabalhadores que, ao que SOL apurou, já recebeu o aval do Banco de Portugal. Em causa está a saída de 804 trabalhadores e o fecho de 80 balcões.
Numa nota interna enviada aos trabalhadores, o chairman e o CEO admitiram que «os tempos que vivemos são desafiantes e incertos» e confirmam a saída entre 600 e 900 trabalhadores. O SOL sabe que esta situação já está causar mal estar interno, uma vez que o chairman do Banco Montepio só teve acesso à informação que foi enviada ao regulador cerca de uma hora antes. Carlos Tavares também criticou o conteúdo enviado para o órgão agora liderado por Mário Centeno por entender que não só merecia mais cuidado como também devia conter as atas das reuniões em que o tema foi discutido.
Ao que o SOL apurou, o banco liderado por Pedro Leitão respondeu a algumas questões colocadas pelo Banco de Portugal, no que diz respeito ao plano de redução de custos sem consultar o conselho de administração, que só mais tarde teve acesso aos esclarecimentos enviados pela instituição financeira.
Aliás, estas questões levaram o conselho de administração a reunir-se esta quinta-feira. Uma reunião que se prolongou pela noite dentro e recomeçou esta sexta-feira.
A notícia de redução da estrutura também não caiu bem ao presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários. Ao SOL, Paulo Marcos garante que esta redução é de «magnitude nunca vista na Europa». Também lamenta que não haja um interlocutor nas negociações e questiona onde está a ser aplicada a regra dos 20%20. «O Banco propõe cortar mais de 20% dos trabalhadores e não reduz em dimensão paralela a sua administração?», pergunta.
Já esta semana, o Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários, o Sindicato dos Bancários do Norte e o Sindicato Independente da Banca estiveram reunidos com a administração executiva do banco. E, em reunião com Pedro Leitão, esclareceram apenas que foi apresentando «um projeto de reestruturação que contempla um plano alargado de reformas antecipadas e de rescisões de contratos de trabalho por mútuo acordo que irá decorrer até 2021», mas sem quantificar quantos funcionários irão sair da entidade bancária.
Também a UGT já tinha classificado esta medida como «uma atitude miserável», anunciando que os sindicatos dos bancários vão sair à rua para protestar. «O Governo deve olhar para isto com olhos de ver e perceber se há ou não há aqui mão criminosa, que levou a uma gestão danosa e que agora as grandes vítimas são sempre os mesmos, são os trabalhadores. Nós não aceitamos», disse o secretário-geral da UGT.
Fonte oficial do Montepio disse apenas que é conhecido que o banco «está a ajustar processos e a estudar a sua dimensão, tal como foi partilhado com os colaboradores e as respetivas estruturas».
Recorde-se que em junho o banco tinha anunciado que o Montepio tinha decidido fechar 31 agências bancárias no âmbito de uma estratégia que passa pelo reforço da prestação de serviços digitais. «O Banco Montepio vai acelerar a transição digital, rumo a um novo paradigma de relação, ao mesmo tempo que se ajusta aos desafios de um novo contexto, com os objetivos de acelerar a transição digital, ajustar o modelo de serviço e aumentar a eficiência», disse, na altura.
Também indicou que pretendia «implementar novos conceitos e novas formas de trabalhar que valorizem a colaboração e a flexibilidade, promovendo um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional».
O banco Montepio teve prejuízos de 51,3 milhões de euros no primeiro semestre, que comparam com os lucros de 3,6 milhões de euros do mesmo período de 2019.
Setor em emagrecimento
A maioria das instituições financeiras, em nome da crise e das novas necessidades dos clientes, reduziu drasticamente as suas estruturas durante estes últimos dez anos. E os números falam por si: cerca de menos 13 mil trabalhadores e menos quase 1.800 balcões neste período só nos principais cinco bancos a operarem em Portugal.
Tendo em conta os dados apresentados pelos cinco maiores bancos entre 2010 e até ao primeiro trimestre deste ano, o BCP perdeu 2.953 trabalhadores e 391 balcões. O BPI reduziu 4.663 colaboradores e 499 balcões, enquanto o Santander ficou com menos 215 balcões, mas aumentou em 321 o número de trabalhadores. Já a Caixa Geral de Depósitos reduziu 2.606 trabalhadores e 318 balcões. Um cenário que ganhou maior relevo nos últimos 10 anos com o BES e, mais tarde, com o Novo Banco, cuja estrutura caiu 2.115 em termos de trabalhadores e 356 em balcões.
Números que acabam por contrair os resultados obtidos. Apesar da redução face ao ano anterior, juntos, a Caixa Geral de Depósitos, o Santander Totta, o BCP e o BPI lucraram 540,5 milhões nos primeiros seis meses do ano – ainda assim, uma queda de 41% face a igual período do ano passado. Só Novo Banco contrariou esta tendência ao apresentar prejuízos de 555,3 milhões.
O que é certo é que o aumento das margens – em que as comissões estão a ser o motor das contas dos bancos –, a quebra das imparidades e um esforço na contenção de despesas, nomeadamente em termos de pessoal e de estruturas, é a fórmula de sucesso para ‘salvar’ os resultados das instituições financeiras.