A subida de António Guterres ao mais alto posto das Nações Unidas não foi o primeiro grande sucesso da diplomacia portuguesa. Já antes disso, no final da Guerra Fria, entre 1994 e 1999, José Cutileiro foi secretário-geral da União da Europa Ocidental, uma união militar cujas competências seriam fundidas na UE. Nesse período, Diogo Freitas do Amaral presidiu à Assembleia-Geral da Nações Unidas. Depois, entre 2004 e 2014, Durão Barroso encabeçou a Comissão Europeia e Mário Centeno foi presidente do Eurogrupo até há uns meses.
«De facto, para um país com apenas 10 milhões de pessoas, Portugal tem uma quantidade surpreendente de softpower», estranhou a revista britânica Monocle, num artigo de 2018.
É que Portugal é uma escolha natural como solução de compromisso. Afinal, conta com o apoio de boa parte do bloco africano, graças à Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, tem um pézinho no bloco latino-americano através do Brasil, está plenamente integrado dentro da União Europeia, sem tensões de maior. Ao mesmo tempo, mantém uma vertente atlanticista, sendo um defensor da proximidade entre os Estados Unidos e a UE – veja-se o papel que Durão Barroso teve na Cimeira das Lajes, em 2003, articulando EUA, Espanha e o Reino Unido para invadir o Iraque.
Além disso, talvez Portugal seja demasiado pequeno para alarmar os rivais dos EUA, como a China, com a qual tem fortes ligações económicas.
Portugal é, aliás, uma peça importante para a Nova Rota da Seda, um gigantesco projeto de infraestrutura chinês que pretende ligar a China a África e à Europa, cruzando a Ásia Central.