As tensões entre o grupo Cofina e a Media Capital – nomeadamente com o acionista Mário Ferreira – parecem não ter fim. Agora, o Correio da Manhã e a CMTV avançaram com uma queixa-crime contra Mário Ferreira. Em causa está a queixa do acionista da Media Capital enviada à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), onde Mário Ferreira diz ser alvo de «ataques» por parte das publicações do grupo de Paulo Fernandes.
O anúncio da queixa-crime foi feito num editorial publicado pelo Correio da Manhã com o título ‘Atentado à dignidade’, onde a publicação defende que «a liberdade de imprensa é um bem tão precioso como o ar que respiramos».
«Na sequência de notícias sobre a mudança de poder em curso na Media Capital, Mário Ferreira apresentou uma queixa na ERC contra a Cofina. A direção do Correio da Manhã e da CMTV mandatou os seus advogados para avançarem com queixa-crime por difamação contra o empresário e seus aliados, que o secundaram, por considerarmos esse ato um ataque à nossa dignidade profissional», lê-se no editorial. Mas as acusações vão mais longe, com o CM a escrever que «a atitude destes empresários desclassifica-os como putativos candidatos a investidores na comunicação social». «A lei proíbe expressamente os proprietários e administradores de se envolverem nos critérios editorais das redações», sublinha a publicação, dizendo que essa linha tem sido passada na Media Capital.
O grupo assegura que as notícias continuarão a ser publicadas: «Sobre a mudança de poder em curso continuaremos a investigar o currículo, em alguns casos o cadastro, dos investidores, e tentar saber a origem do dinheiro. E continuaremos a escrutinar o papel das autoridades reguladoras no processo. Sem medo, doa a quem doer, porque a liberdade de imprensa é um bem tão precioso como o ar que respiramos».
A posição da Cofina é uma reação à notícia de que Mário Ferreira avançou com uma queixa na ERC contra o grupo de Paulo Fernandes e que a ERC confirmou ao SOL: «A ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social confirma que recebeu uma participação da Pluris Investments S.A. contra o jornal Correio da Manhã e o seu diretor Otávio Ribeiro. A ERC recebeu também uma comunicação da Media Capital com esclarecimentos a propósito da notícia ‘Acionista minoritário já agia em junho como dono da TVI’ publicada pelo Correio da Manhã. Ambos os documentos encontram-se em apreciação pelos serviços da ERC, nos termos habituais».
Ora, segundo o empresário – que detém mais de 30% da Media Capital – a CMTV, Correio da Manhã, Sábado ou Jornal de Negócios – todos do grupo Cofina – têm como objetivo «condicionar decisões da ERC e CMVM [Comissão de Mercados e Valores Mobiliários]» acerca da sua entrada no capital da dona da TVI.
«Ao longo de meses temos sido vítimas de ataques, notícias do grupo Cofina e das suas diversas publicações, que são já mais de 250 — e essas só relacionadas à minha pessoa, para não falar sobre as notícias da Media Capital», disse o dono da Douro Azul à TSF, acrescentando que «há uma clara perseguição e tentativa de manipulação dos mercados com o objetivo de baixar preços, afastar potenciais investidores e comprar ao desbarato».
Assim, o empresário diz que pediu uma «intervenção urgente da ERC na adoção de medidas que assegurem as regras legais, éticas e deontológicas que regem o exercício da liberdade de imprensa, que a Cofina optou por não usar».
Mas esta não é a primeira vez que a Cofina é acusada de avançar com notícias contra Mário Ferreira ou a Media Capital. Recorde-se que, em julho, a dona da TVI enviou uma carta à ERC questionando a entidade sobre um comunicado em que o regulador dos media dá conta de estar a analisar as mudanças na estrutura acionista da TVI.
No documento, a Media Capital relembra que a ERC anunciou estar a «avaliar o âmbito» e a «eventual configuração da nova posição» sobre uma «alteração não autorizada de domínio».
A holding que controla a TVI diz supor que as mudanças referidas pela ERC estão relacionadas com a alteração da composição do conselho de administração do grupo Media Capital, bem como da composição do conselho de administração da TVI. Face a isto, a Media Capital não tem dúvidas: «Trata-se de um comunicado de enorme gravidade».
A Media Capital diz acreditar que este comunicado será «um ato precipitado e infundado» mas, no entanto, não poder ignorar o facto de que a mesma surge na sequência de publicações «especulativas e infundadas» por órgãos de comunicação social «que pertencem ao grupo Cofina». «Ora, este grupo já manifestou, por diversas vezes, que está interessado em adquirir o controlo do grupo Media Capital», atira a dona da TVI, acrescentando que o comunicado da ERC surge apenas duas horas depois de notícias difundidas pela Cofina. «A Cofina consegue, desta forma tão fácil, atingir os objetivos que a movem e que não são mais do que afetar o valor do grupo Media Capital e das suas participadas relevantes, como é o caso da TVI», afetando também a Prisa. Acusa ainda a Media Capital de a Cofina ter afetado o grupo por ter deixado cair por terra a compra.
Deliberação final
Ao SOL a ERC diz não comentar processos ainda em curso. No entanto, no que diz respeito à análise às mudanças na TVI, o regulador explica que «prevê-se que as audições dos intervenientes considerados relevantes para o apuramento dos factos, no âmbito da análise da ERC às mudanças relevantes na estrutura da TVI, termine presumivelmente no final da próxima semana». Findas essas audições, «será feito um projeto com o sentido provável da deliberação e, assegurado o respetivo contraditório, o Conselho Regulador da ERC proferirá a deliberação final».
TVI perdeu em setembro
Entretanto, SIC e TVI revelaram as audiências de setembro, mês que trouxe consigo várias mudanças na estação de Queluz mas que não foram suficientes para ultrapassar a rival de Paço de Arcos.
Assim, a SIC terminou o mês de setembro a liderar – como acontece há 20 meses consecutivos – com 19,8% de share a uma distância de 3,1 p.p. para a TVI. Em setembro, subiu nas audiências face a agosto e face a setembro de 2019. Apesar de não ter vencido esta ‘guerra’, a TVI mostrou o melhor resultado dos últimos 16 meses ao alcançar 16,7% de share no all day, o que representa uma subida consistente pelo sexto mês consecutivo. Já no prime time, os 20,2% conquistados correspondem ao melhor valor desde maio de 2019.
13 de setembro foi, efetivamente, o dia em que a estação de Queluz estreou o novo estúdio de informação, uma das apostas que já ocorreram sob a batuta do novo diretor de informação do canal, Anselmo Crespo, que assumiu funções no primeiro dia do mês. Mas este acabou por ser mesmo o único dia em que o Jornal das 8, da TVI, venceu o Jornal da Noite, da SIC. E já depois de 13 de setembro, em 15 dias, em relação ao Telejornal da RTP, este segmento de informação da TVI só ganhou sete vezes, incluindo em três domingos.