Nesta luta desenfreada contra a covid os mais novos têm sido muito prejudicados.
Para começar, ficaram mais de um terço do ano sem escola. Muitos entraram num sedentarismo entregues a playstations, tablets e a si próprios enquanto os pais trabalhavam. Inexplicavelmente, mesmo quando abriram os espaços de exercício para adultos ao ar livre e mesmo os ginásios já estavam à pinha, os parques infantis mantiveram-se interditos, cheios de fitas.
Era muita a expectativa para a abertura das escolas em setembro mas, apesar dos esforços de todas para fazer o melhor, o casamento entre a prevenção do vírus e o bem-estar dos alunos é necessariamente infeliz. Os mais novos têm sido deixados à porta das escolas como na roda dos enjeitados. Mal se despedem dos pais, com máscaras e filas à mistura, são recebidos por alguém que parece saído de um laboratório de experiências perigosas e lá entram, não sabemos bem para onde, porque a partir daí é tudo um mistério para nós. Não os vemos a brincar, não sabemos quem são os amigos, não pomos mais os olhos em quem cuida deles. E à saída também não há tempo para explicações.
Quem cuida, sempre de máscara no rosto e alguma distância para que não haja algum azar, perde a expressão facial. A desinfeção excessiva de materiais – sobretudo no pré-escolar – e a preocupação com as regras de segurança deixam pouca disponibilidade para o que é realmente importante. As crianças são afastadas umas das outras no recreio. Estão reduzidas a um espaço e em algumas escolas chegam a ficar de castigo por transpor esses limites. E isto quando podem ir ao recreio: como se não bastassem todos estes meses em cativeiro, os tempos de intervalo foram reduzidos e muitos são passados dentro da sala de aula. Os mais novos precisam de rua, de ar puro, de socializar, de explorar. É um crime crianças e jovens passarem uma série de horas fechados e sentados em salas de aulas de máscara posta. A sala do meu filho mais velho nem janelas tem!
E como se tudo isto não fosse suficiente, há escolas que exigem uma declaração médica caso o aluno falte um dia. Perante uma indisposição passageira, uma constipação ou uma gripe, os pais são obrigados a levar o filho ao médico – o que convém imenso em plena pandemia –, que provavelmente o obrigará a fazer o teste de covid. Enquanto o resultado não chega a criança vai perdendo aulas.
A fórmula para a prevenção do vírus sem influenciar a vida das crianças é difícil. Mas não podemos deixar que a covid, além de tantas outras coisas, nos roube também o bom senso.