Amália foi do mundo, e pelo mundo foi deixando gravações que continuam inéditas. Ontem, dia em que teve lugar a cerimónia de homenagem à fadista há 100 anos nascida, a ministra da Cultura anunciou que o Governo tem em marcha um plano para trazer para o país esse legado. “O Ministério da Cultura vai dar início ao processo de trazer para Portugal as gravações de som de Amália Rodrigues, muitas delas inéditas e até desconhecidas e que estão um pouco dispersas por todo o mundo”, disse Graça Fonseca, citada pela Lusa. A ministra, que discursou no Panteão antes de Fernando Medina, presidente do executivo lisboeta, e do primeiro-ministro António Costa, salientou que o Governo quer “salvaguardar para sempre esse valiosíssimo património sonoro de Amália Rodrigues, com a sua dimensão universal e ao mesmo tempo tão nossa”, pelo que o objetivo traçado passa por “reunir e recuperar em Portugal o maior espólio possível de registos som da artista”.
A cidade mais cantada Na cerimónia, que teve lugar no dia em que se completaram 21 anos desde a morte de Amália Rodrigues, tanto Fernando Medina como António Costa destacaram a dimensão global da artista. “A sua carreira internacional foi das mais apoteóticas e mundiais de todo o século XX e tornou-se a primeira artista portuguesa verdadeiramente global. A sua voz fez de Lisboa a cidade mais cantada do mundo”, afirmou Medina, também citado pela agência noticiosa.
Já o primeiro-ministro, que era presidente do município aquando a consagração do fado como património imaterial da humanidade pela Unesco, em 2011, recordou a importância da fadista para este feito. “Amália, não estando lá fisicamente, emprestou a sua voz a uma gravação. Com a sua voz sentámos de novo milhares de delegados de todo o mundo que já se encontravam de pé no final da sessão. Esse foi seguramente um dos momentos mais emocionantes da nossa vida. Percebemos, de facto, que, a partir da voz de Amália, o fado já era de todo o mundo”, disse António Costa. Era do mundo todo, mas a ele chegou depois de Amália ter começado a mudá-lo, ao estilo, logo a partir da raiz: as tabernas de Alfama. Para o primeiro-ministro, a fadista foi a responsável por dar “uma nova musicalidade ao fado, resgatando-o do travo ácido da taberna para o tornar numa melodia que, ainda não sendo dançante, dança nos ouvidos à escala universal”. E houve ainda tempo para assinalar a falta de liberdade, e a liberdade que cantou, em tempos de ditadura. “Amália não nasceu num país livre, mas libertou o país nos versos que cantou e nos compositores a que deu voz. Permitiu e permite a redescoberta do fado como algo que está acima de qualquer regime que o procure apropriar”.
Na cerimónia de ontem foram ainda interpretados três temas de Amália e estiveram presentes diversas personalidades, entre as quais o antigo secretário de Estado Rui Vieira Nery, que preside às comemorações do centenário de Amália (que se irão estender-se até junho do próximo ano), ou a fadista Carminho.