Com o atual clima de promoção de investimentos como uma ferramenta Keynesiana, o Governo precisa de garantir um elevado retorno económico e social do investimento na área das infraestruturas.
O que se sabe: a pandemia trouxe mais uma crise económica; o confinamento acelerou e forçou o processo de digitalização da sociedade; a Comissão Europeia ofereceu um antídoto condicionado em forma de subvenções – o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Há uma oportunidade nesta crise? Sim, e deverá trazer vida nova para vários setores da economia. Centremo-nos, por exemplo, no desenvolvimento do interior. Há anos que se criam políticas públicas para aumentar a atratividade de viver no interior à luz do seu valor social, mas este continua a não ter o valor económico necessário para fixar pessoas.
Entretanto, a resposta à pandemia trouxe um novo paradigma – o trabalho a distância. A digitalização do trabalho está a demonstrar a possibilidade de deslocalizar empregos, nomeadamente de serviços, para o interior, levando assim pessoas e bens. A redução de custos para as empresas e a satisfação das pessoas são pontos chave. Thomas Friedman diria que será uma oportunidade para Portugal ficar plano.
A crise económica e financeira de 2011 foi sucedida com uma recuperação e aumento da atratividade dos centros das cidades. O arrendamento local e o normal funcionamento do mercado permitiram a criação de valor económico à custa do investimento externo, dos turistas estrangeiros e das famílias portuguesas. Num paralelismo, será que agora a crise económica de 2020 trará o desenvolvimento do interior à custa das grandes cidades do litoral? O mercado é esperto, mas incerto.
Portanto, cabe ao Governo fazer o que lhe compete – dar confiança às pessoas sobre a atratividade do interior. Uma solução será enquadrar parte do PRR para reduzir o tempo nas distâncias físicas e aumentar o conforto das pessoas. Para já, a prioridade do Governo parece recair em transportes rápidos, abrangentes e sustentáveis. Como previsto no PNI2030, o Governo deverá acelerar a compra de material circulante ferroviário. No entanto, o valor envolvido no PRR para as infraestruturas de transporte não me parece suficiente para fazer grandes mudanças. Para reduzir distâncias digitais, ainda pouco se sabe sobre o que fazer com os 20% das verbas para a transição digital. De qualquer forma, para trabalhar nas cidades do litoral a partir do interior e ajudar a desenvolver o interior a partir dessas cidades, é fundamental que o PRR esteja alinhado com as verbas do PT2020 e do próximo Quadro Financeiro Plurianual (2021/27).
*Diretor da Licenciatura e Mestrado em Engenharia Civil. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias