Afinal, a queda do turismo e a própria pandemia estão a ter um efeito quase nulo no mercado imobiliário, que continua a apresentar preços pré-covid. Os números falam por si. Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, os preços dos casas imóveis aumentaram 7,8% no segundo trimestre de 2020. Ainda assim, verifica-se um crescimento homólogo 2,5% inferior ao registado nos primeiros três meses do ano (10,3%), com Portugal a registar a quinta maior subida de preços da União Europeia.
Uma tendência que não surpreende os responsáveis do setor. Ao SOL, Luís Lima garante que esta subida de valores «deve-se ao facto de não haver nenhuma justificação para que haja uma quebra de preços, no panorama de um mercado imobiliário que tem estado assente numa valorização progressiva e sustentável do seu património (em termos globais, pois nas principais cidades a escalada de preços foi mais rápida e descontrolada do que se desejaria, devido aos desequilíbrios que se registam entre a elevada procura e fraca oferta)».
E, face a esse cenário, garante que, neste momento, «não há nenhum motivo para que haja uma desvalorização do património à semelhança do que aconteceu no período da troika, pois desta vez não há excesso de oferta e a exposição ao crédito é muito menor» e, como tal, defende que «quaisquer ajustes que se possam sentir no imediato prendem-se essencialmente com a correção de preços de ativos que já estariam a ser comercializados acima do valor de mercado».
O certo é que o valor médio da avaliação bancária, realizada no âmbito de pedidos de crédito para a aquisição de habitação, fixou-se em 1.128 euros por metro quadrado em agosto, o que representa uma subida de um euro face a julho. E o maior aumento registou-se na Área Metropolitana de Lisboa (0,7% com o preço por metro quadrado a fixar-se nos 1.529 euros).
Apesar de estarmos a assistir a uma retração da economia, o presidente da APEMIP garante que «continua a haver procura para a compra de imóveis até porque, a esta altura, o mercado de arrendamento não se posiciona como uma alternativa viável e adequada às necessidades e possibilidades das famílias».
E o que esperar até ao final do ano? Para Luís Lima, não há dúvidas: «É muito difícil fazer previsões num cenário de incerteza como o que estamos a viver, no entanto é expectável que haja uma contração na procura e no número de transações efetuadas, motivada pela instabilidade laboral que esta pandemia já começa a refletir».
Fim do alojamento local?
Com a quebra do turismo – apesar de a atividade turística ter recuperado em agosto, registou-se uma queda de 43,2% nos hóspedes e de 47,1% nas dormidas face ao mesmo período do ano passado – uma das atividades mais penalizadas a par da hotelaria é o alojamento local.
Mas, para quem investiu neste negócio, Luís Lima deixa um conselho: «Haverá decerto quem tenha investido no Alojamento Local a contar com determinada rentabilidade, que agora não consegue arrecadar e, nestes casos, é provável que se assista à opção de venda do ativo. No entanto, para quem consiga suportar a quebra de rentabilidade, a minha recomendação iria sempre no sentido da aposta no arrendamento de longa duração», refere ao SOL.
Uma solução que, segundo o presidente da APEMIP, poderá ir ao encontro do possível aumento da procura pelo arrendamento. «Espera-se que, perante uma situação de incerteza e em que se prevê que possam haver maiores dificuldades no acesso ao crédito para compra de habitação, a procura pelo arrendamento vá aumentar, e estes ativos poderão ser uma ótimo alternativa para dar resposta a esta demanda», acrescentando que, «apesar de a rentabilidade ser inferior àquela que seria obtida no mercado de alojamento local, é muito mais segura, o que é particularmente relevante neste período de incerteza em que não há qualquer previsão sobre quando o turismo poderá começar a recuperar».
A verdade é que, ao contrário dos imóveis para venda, no caso do arrendamento os valores não param de subir. Lisboa, segundo um estudo da Casafari, continua a ser o distrito com a renda mais elevada do país, cujos valores subiram entre 0,83% e 1,63%, fazendo com que a renda pedida para um T1 seja, em média, de 916 euros; para um T2, seja de 1.111 euros; e para um T3 1.387 euros.
No Porto, o aumento foi mais expressivo, oscilando entre 1,09% e os 10,06% e fazendo com a renda de um T1 seja agora de 663 euros, de um T2 781 euros e de um T3 859 euros.
Também para muitos hotéis que ainda estejam em construção a solução poderá passar por redirecionar essas unidades para habitação. Pelo menos é essa a opinião que já foi partilhada por Miguel Poisson, diretor da Sotheby’s International Realty, que aponta para que «muitos hotéis já em construção, sobretudo em Lisboa e no Porto, mas também no Algarve, poderão nem abrir e serem redirecionados para utilização residencial de famílias de classe média ou média alta».
Tal como o SOL já avançou, para este ano estava prevista a abertura de 51 novas unidades hoteleiras, num total de cinco mil camas. A abertura está adiada «até a situação estar resolvida», disse a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).