O plano de reestruturação da TAP ainda não foi apresentado – tem de ser entregue a Bruxelas até 10 de dezembro -, mas a companhia aérea continua a ‘emagrecer’, na sequência da crise na aviação, devido à pandemia.
O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, confirmou esta semana que o Grupo TAP vai perder mais 1.600 trabalhadores até ao final do ano, o que significa que – contando com os cerca de 200 contratos termo na TAP que terminam no primeiro trimestre de 2021 e os quase mil despedimentos previstos na empresa de handling Groundforce (na qual a TAP tem uma participação minoritária) – o universo TAP perderá mais de 2.800 trabalhadores (diretos e indiretos) até março do próximo ano.
Em audição na comissão parlamentar de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, Pedro Nuno Santos admitiu que não é possível «manter artificialmente uma dimensão que não tem adesão ao mercado em que estamos hoje a operar», sublinhando que o processo de reestruturação da TAP implica este «redimensionamento» da empresa.
Recorde-se que esta audição realizou-se após a apresentação pelo Governo da versão preliminar do Orçamento do Estado para 2021, onde se prevê que o Estado ‘esgote’ os 1,2 mil milhões de euros do empréstimo para a TAP já em 2020, ficando ainda ‘reservados’ mais 500 milhões em empréstimos para o próximo ano (ver páginas 10 a 19).
Ouvidos pelo SOL, os sindicatos mais representativos da TAP admitem que este anúncio não surpreende, até porque não há, neste momento, qualquer novidade ao que já havia sido anunciado. Henrique Louro Martins, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), afirma que «estes números já tinham sido anunciados por Antonoaldo Neves [anterior presidente da comissão executiva da TAP]. Do nosso ponto de vista, a reestruturação, no que diz respeito aos trabalhadores, está feita. Destes números anunciados, 1.200 são tripulantes de cabina. Já é um número muito grande, não é?», questiona. Também José Sousa, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava), revela-se conformado com estes despedimentos, numa fase em que a companhia opera em apenas 30%. «Isto é o plano de reestruturação em relação aos trabalhadores. O que está a ser feito, neste momento, é tentar perceber o que o mercado tem para oferecer nos próximos anos, para tentar tornar a empresa sustentável», diz.
Rui Moreira ‘ironiza’
Na mesma audição, Pedro Nuno Santos afirmou que as quatro rotas retomadas no aeroporto do Porto – Amesterdão, Milão, Zurique e Ponta Delgada – Amesterdão, Milão, Zurique e Ponta Delgada – representam «neste momento um prejuízo» para a TAP.
Rui Moreira reagiu a estas declarações com ironia e um… ‘desafio’. «Se são as quatro rotas do Porto que dão prejuízo, pare com elas», disse o presidente da Câmara do Porto. Num texto no Facebook, Rui Moreira sugeriu que a TAP seja incorporada na Carris ou na Soflusa, duas empresas de transportes públicos que operam exclusivamente em Lisboa. «Incorpore a TAP na Carris ou na muito rentável Soflusa. Não nos importamos, havemos de encontrar uma solução. Para Lisboa é ótimo: fica com a TAP que, sem o prejuízo do Porto, deixa de ser um ‘perdócio’. Para o resto do país – para a província em que alegremente nos incluímos – é uma maravilha, porque a TAP deixa de nos custar dinheiro», escreveu o autarca.
Já depois desta reação, o Ministério das Infraestruturas e Habitação recuou, emitindo um comunicado onde esclarece que a TAP «está neste momento a perder dinheiro em praticamente todas as rotas».