A demissão do subdiretor de conteúdos da RTP Madeira, Miguel Torres Cunha – tornada pública no início do mês –, tem vindo a causar alvoroço no seio da televisão pública, em que se incluem trocas de mensagens azedas entre as chefias e a comissão de trabalhadores (CT) da RTP.
Miguel Torres Cunha apresentou a demissão do cargo, que ocupava desde maio de 2012, no passado dia 13 de setembro, considerando ser esta “a melhor solução”, embora sem adiantar mais quaisquer razões para a decisão. Ao longo dos últimos oito anos foram públicos os vários braços-de-ferro entre Torres Cunha e profissionais da RTP Madeira, que acusavam o agora subdiretor demissionário de exercer as suas funções de forma autoritária.
Mas foi a reação da CT da RTP – com quem Torres Cunha ainda recentemente teve divergências, a propósito de processos que envolviam um procedimento disciplinar a uma trabalhadora e o despedimento de um precário – que espoletou uma acesa troca de acusações que também já envolveu outros diretores do canal.
Quando a demissão de Torres Cunha foi tornada pública, a CT reagiu, no seu habitual boletim informativo semanal, dizendo simplesmente “estar de acordo” com a decisão. O subdiretor demissionário, porém, não gostou, e respondeu através de um email enviado a todos os profissionais da RTP Madeira apelando a uma tomada de posição do conselho de administração da RTP contra aquela comissão. “Lamento profundamente que, na RTP, os diretores e administradores sejam insultados, gozados e maltratados a pretexto da defesa dos direitos dos trabalhadores ou da empresa sem que a administração da empresa tome uma posição a favor do respeito pela dignidade dos trabalhadores em funções de direção. Até quando os responsáveis se vão sujeitar a isto? Chega de ironias mal-educadas e insultos!”, escreveu.
Numa mensagem em que afirma que “fazer ironia e brincar com a dignidade dos outros é fácil”, Torres Cunha acrescenta que desde 2012 trabalhou o dobro das horas que deveria, sem gozar folgas ou férias. O subdiretor demissionário deixou ainda o aviso de que se reserva “o direito de recorrer a outras instâncias para defender a minha dignidade, agora que sou jornalista da RTP sem funções de direção”.
A CT reagiu a este documento classificando-o de “bizarro” e afirmando que “escrever um texto a sugerir que o Conselho de Administração exerça represálias sobre os membros de uma CT e a insinuar que os membros do Conselho de Administração só não o fazem por frouxidão é de um sentido de estratégia cujo sentido escapa ao comum dos mortais”.
No seu mais recente boletim, a CT acusa também os diretores Miguel Barroso, Teresa Paixão, Gonçalo Madaíl e Rui Pego e a jornalista Rosário Salgueiro de enviarem à comissão mensagens intimidatórias no âmbito deste caso. “Quer gostem ou não, o controlo da gestão é uma das atribuições legais de uma comissão de trabalhadores. Continuaremos a procurar exercê-lo, sem medos, sem receios, sem créditos e sem misericórdia”, lê-se na nota.