Estudo diz que nova mutação do coronavírus teve origem em Espanha

Em causa pode estar o abrandamento das restrições para viajar no verão, visto que Espanha é um destino turístico importante.

Um estudo liderado pelo Conselho Superior de Investigação Científica, publicado esta quinta-feira, concluiu que uma das mutações mais recentes do coronavírus, presente na segunda vaga, começou em Espanha e desde então espalhou-se pela Europa e outras regiões.

"Só na Europa, há centenas de variantes do novo coronavírus a circular, com mutações nos genomas, mas muito poucas se disseminaram com tanto êxito e se revelaram tão persistentes como esta", diz o estudo com análises feitas pela Universidade de Basileia, a Escola Politécnica Federal de Zurique e o consórcio espanhol SeqCovid-Spain.

Os investigadores chamaram esta mutação de “20A.EU1” e os testes detetaram-na em Espanha, em cerca de 80% das amostras analisadas neste estudo, perto de 90% no Reino Unido e entre 30% a 40% na Suíça e Países Baixos. Ainda na Europa, a mutação também foi encontrada em amostras de França, Bélgica, Alemanha, Itália, Letónia, Noruega e Suécia e noutros continentes, em Hong Kong e Nova Zelândia.

A professora da Universidade de Basileia Emma Hodcroft, autora principal do estudo, afirmou que em causa pode estar o abrandamento das restrições para viajar no verão, visto que Espanha é um destino turístico concorrido e assim se expandiu esta variante do genoma do vírus.

Os cientistas explicam também que o surgimento desta mutação em Espanha pode estar ligada a um “evento superprogador ligado aos trabalhadores agrícolas no noroeste espanhol” durante os meses de verão.

Iñaki Comas, coautor do estudo e diretor da SeqCovid-Spain, citado no comunicado da universidade suíça explica que “uma variante [do vírus], ajudada por um evento superpropagador, pode rapidamente prevalecer em todo um país”.

No entanto, nada indica que esta variante do vírus seja mais contagiosa ou perigosa do que as outras identificadas anteriormente nem é a única presente na segunda vaga da pandemia.

Os investigadores relatam que esta descoberta é importante para reunir informação sobre as políticas de transporte em vigor durante os meses de verão na Europa, depois da diminuição dos casos da primeira vaga. Por outro lado, sublinham que é preciso cuidado ao relacionar diretamente esta mutação ao aumento de casos na Europa, salvaguardando que em países com taxas de contágio mais preocupantes, como França ou Bélgica, não é a variante mais comum.

"O fecho de fronteiras de longa duração e as fortes restrições às viagens não são desejáveis, mas com a expansão da 20A.EU1 parece claro que as medidas tomadas foram insuficientes para deter os contágios de novas variantes", disse Emma Hodcroft.

A mutação foi inicialmente detetada em análises de sequências feitas na Suíça através da plataforma Nextstrain – criada em 2015 e desenvolvida pela pela Universidade de Basileia e pelo Centro de Investigação Oncológica Fred Hutchinson, de Seattle (EEUU), destina-se a fazer um rastreio em tempo real de patógenos mediante sequenciação genética, tendo já sido utilizada para analisar a expansão de outros vírus, como o zika, os da gripe e ébola.

O estudo que dá conta desta nova mutação foi publicado na rede especializada medRxiv, um arquivo de manuscritos médicos ainda não revistos por outros cientistas, que está ligada à norte-americana Univers, sendo que ainda não consta de qualquer revista científica.