Na reta final, Biden e Trump em corrupio nos swing states

Com os EUA na terceira vaga da pandemia, o Presidente pode-se gabar do crescimento do PIB, mas não da situação a nível de saúde pública.

Tanto o Presidente norte-americano, Donald Trump, como o seu adversário democrata, Joe Biden, dirigiram-se para um duelo em Tampa, na Florida, disputando desesperadamente os votos em pessoa, depois de mais de 73 milhões de eleitores já terem votado antecipadamente, segundo a Associated Press – são mais de 50% dos votos que houve nas presidenciais de 2016. Muitos estados, que tendem mais fortemente republicano ou democrata, podem até já estar ganhos, mas nos swing states, onde a decisão é sempre no fio da navalha, cada voto de última hora conta. Na sexta-feira, Trump começa um périplo pelo Michigan, Geórgia e Pensilvânia. Já Biden vai ao Iowa, Wisconsin e Michigan.

Trump arrancou para a Florida, esta quinta-feira, com boas e más notícias às costas. As boas notícias é que a economia norte-americana cresceu uns espantosos 33.1% da taxa anual no trimestre de julho a setembro, depois da queda livre sofrida com a pandemia. “Estou muito feliz que estes ótimos números do PIB tenham saído antes de novembro”, tweetou Trump.

As más notícias são que houve uma enorme queda na bolsa de Wall Street, esta quarta-feira, a pior desde junho, e se prevê uma nova queda do PIB, brevemente, à medida que os estímulos bilionários à economia acabam e situação de saúde pública se deteriora. Cada vez mais estados temem ter de impor de novo confinamentos estritos, com os EUA em plena terceira vaga da covid-19, ou sem nunca sequer ter saído da primeira, dependendo da perspetiva. Só esta quarta-feira houve mais de 80 mil novas infeções registadas e mais de mil mortes nos Estados Unidos.

Dificultando ainda mais o caso de Trump, que disputava a Florida, um dos estados com uma maior percentagem de idosos do país, que têm alta taxa de participação eleitoral e estão em maior risco da covid-19, nesse mesmo dia a CNN divulgou mais bocados das entrevistas conduzidas no início do ano por Bob Woodward, o lendário jornalista que revelou o caso Watergate. Desta vez, foi uma conversa com um dos principais conselheiros de Trump, o seu genro Jared Kushner, que deixou exposto o desprezo da Administração pela ciência.

“Foi quase como Trump conseguir recuperar o país de volta dos médicos certo?”, gabou-se Kushner, numa conversa em abril, pouco após a Administração emitir diretivas federais para a reabertura. Pouco depois, alguns dos estados que a acataram tornaram-se nos epicentros do surto, como a Florida e o Texas. 

“Houve a fase do pânico, a fase da dor e depois a fase da recuperação. Creio que ontem à noite simbolizou o início da recuperação”, acrescentou o genro do Presidente. São palavras que não envelheceram bem, mais de 150 mil mortes depois. “Trump está de novo no comando, não os médicos. Nós temos uma espécie de, bem, de acordo negociado”, rematou.

Atrás nas sondagens, com a resposta à covid-19 como uma das prioridades dos eleitores, Trump precisa desesperadamente de estancar a hemorragia de votos. Sobretudo de mulheres brancas, a demografia que lhe está a retirar apoio a um ritmo mais rápido. O Presidente tem apelado a esta demografia quase todos os comícios – talvez tenha dado um tiro no pé esta semana, ao dizer que merecia o voto das mulheres porque estava “pôr os vossos maridos de volta ao trabalho”.