por Francisco Rocha Gonçalves
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Oeiras
Esta crise de saúde pública que estamos a viver, provocada pela pandemia de covid-19, tem constituído um verdadeiro teste, que nos põe à prova não só enquanto comunidade, mas também, e principalmente, enquanto indivíduos. É nestes momentos que é preciso estar à altura dos acontecimentos e ter a capacidade de ver e agir além do que as circunstâncias nos apresentam, até porque as consequências sociais e económicas da pandemia estão muito longe de estar ultrapassadas.
Quando a Europa entra numa segunda vaga da pandemia, com o crescimento acelerado do número de pessoas infetadas com o SARS-Cov-2, mas, mais grave, com o aumento do número de internados e de quem tem de ser sujeito a cuidados intensivos, em Portugal, estamos a demorar no ajustamento tempestivo, o mesmo que, num primeiro momento, fez parecer que vivíamos numa bolha milagrosa, que evitou que enfrentássemos momentos terríveis, como aconteceu em Itália e em Espanha, com escolhas de vida ou morte que nunca deviam ter de ser feitas.
Todas as lições que podiam ser aprendidas no período de confinamento a que fomos obrigados não foram aplicadas no desconfinamento que se seguiu. Nem lições, nem avisos parecem ter sido suficientes para nos prepararmos para uma muito previsível segunda vaga. Por alguma razão transcendente, muitos acharam que o pior já tinha passado e que, com o verão, a pandemia ficara no passado.
Olhando para os melhores exemplos, percebemos que as medidas mais restritivas, que provocam graves impactos na economia e na sociedade, evitam-se tomando decisões corajosas atempadamente. A regra é prepararmo-nos agora para limitarmos consequências depois.
Paralelamente, cabe aos governos e a todos os atores políticos estar acima das circunstâncias ditadas pela conjuntura, com vista a defender um bem maior, leia-se aqui o bem comum.
Quando o primeiro-ministro afasta o maior partido da oposição de um possível entendimento no orçamento, numa altura como esta, fá-lo para defender o bem comum? Quando o aliado preferencial dos últimos anos deste mesmo governo decide votar contra o orçamento, o mais importante instrumento de política no que são as práticas da política portuguesa, está a defender o bem comum ou a ser tacticista?
Já devíamos ter percebido, antecipadamente, até pela comparação que podemos fazer com os nossos vizinhos espanhóis, que não há ganhos políticos a retirar de tacticismos e de divisionismos durante uma crise como a que está a ser criada por esta pandemia.
O calculismo da pequena política arrisca a que se ultrapasse o limite da tolerância dos cidadãos – dos eleitores – e depois não adiantará bramar contra a ascensão do populismo.
Este é, deve ser, um tempo de nervos de aço. A questão é saber se os há.