A arte da demagogia e da mentira

Um facto é inquestionável: Costa, quando se trata de enganar e de mentir, consegue bater aos pontos todos os seus correligionários e adversários

A actual geração de políticos, dentro da qual se contam pelos dedos de uma mão aqueles que fogem à regra, especializou-se em cultivar a demagogia e a mentira como as principais armas de combate na prossecução dos seus objectivos.

Daí que, nos tempos de hoje, a palavra político seja vista como sinónimo de demagogo e de mentiroso!

Um facto é inquestionável: Costa, quando se trata de enganar e de mentir, consegue bater aos pontos todos os seus correligionários e adversários.

Fazendo-se valer da experiência adquirida com o seu antigo compincha, mais tarde dedicado aos estudos da filosofia, com quem trabalhou lado a lado nos governos por ele liderados, Costa aperfeiçoou, como ninguém, estas armas das quais praticamente nenhum político abdica de as utilizar.

Há dois dias assistimos a toda uma “mise-en-scène”, ensaiada num interminável conselho de ministros, em que Costa, recriando uma figura de estadista, se limitou a lançar areia para os nossos olhos, sob o pretexto da adopção de medidas de controlo da pandemia que se tem proliferado um pouco por todo o lado.

Em vez de ser claro, preciso e conciso, adjectivos fundamentais para que uma mensagem passe com eficácia aos seus destinatários, arrastou-se durante mais de uma hora com explicações desnecessárias e falaciosas, deixando para o fim, quando já quase ninguém o conseguia ouvir, a substância do seu discurso.

Mas até essa estratégia foi pensada, porque a intenção seria precisamente a de que o cansaço dos destinatários os levasse a não tomarem consciência da esparrela que lhes foi vendida.

Sim, porque as famosas medidas, depois de analisadas, conclui-se valerem praticamente zero! Resumem-se ao encerramento de uma hora mais cedo dos estabelecimentos comerciais (leia-se, Centros Comerciais), da suspensão das feiras e mercados e da aplicação de mais uma machadada nos restaurantes, visando a completa aniquilação da grande maioria deles.

Tudo o resto não passa de pura demagogia! Apela-se ao dever cívico dos portugueses, como se estes não estivessem já fartos da inutilidade dos políticos que lhes têm arruinado a vida!

Mas Costa foi mais longe e não se quis ficar apenas pela demagogia, recorrendo igualmente, como é seu hábito, à mentira.

Com estrondo, anunciou o milagre de aumentar em duas centenas o número de camas disponíveis para acolher doentes com covid, assumindo o compromisso de contratar a quantidade necessária de médicos e enfermeiros intensivistas para o efeito. Ou seja, profissionais de saúde especializados em unidades de cuidados intensivos.

Como exímio mestre na arte da demagogia e da mentira, esqueceu-se de referir que existem somente duas fórmulas possíveis de colmatar a insuficiência desse pessoal médico e de enfermagem: ou se arma em Luís Filipe Vieira e aposta em contratações milionárias junto do mercado externo, ou então disponibiliza as verbas necessárias para a formação dos recursos humanos em falta.

Formação essa, que parece ser a saída encontrada, quando estiver concluída já o vírus pertencerá ao passado!

Também omitiu o facto de os hospitais estarem, no presente, a encerrar camas por falta de enfermeiros, sabendo-se que cerca de quatro centenas deles se encontram no desemprego, por alegada escassez de trabalho.

Sabendo-se, desde o início da primeira vaga da pandemia, que uma segunda, bem mais forte, ocorreria no Outono, porque o coronavírus, como acontece com a gripe, aumenta o contágio perante temperaturas mais baixas, que fez o governo, e em particular o ministério da saúde, para se precaver atempadamente para essa eventualidade?

Nada! Absolutamente nada!

Somente agora, quando se assustaram com o número de infecções diárias, é que se lembraram de que se torna imprescindível dotar os hospitais de mais recursos humanos e materiais, por forma a que estes possam prestar uma assistência efectiva a um considerável aumento de doentes.

E, sejamos honestos, as constantes medidas de restrição da liberdade a que temos sido expostos, com o suposto objectivo de reduzir o número de contágios, nada têm a ver com o risco da doença, porque a percentagem de fatalidades é bastante baixa e atinge, sobretudo, uma faixa da população já com outras patologias associadas.

A preocupação tem sido a de não saturar os hospitais, principalmente os seus cuidados intensivos.

A flagrante incompetência dos responsáveis pela saúde neste cada vez mais paupérrimo País, a quem há muito lhes deviam ter apontado o caminho do despedimento com justa causa, bem como daquele por quem directamente respondem, levou a que se tornasse mais prático mandar quase toda a gente para casa e, consequentemente, se esteja a rebentar com a economia nacional, do que canalizar verbas e energias para uma bem mais ampla cobertura dos cuidados de saúde.

É mais fácil enviar milhares de pessoas para o desemprego, para a pobreza e para o desespero, do que dotar o serviço nacional de saúde dos meios indispensáveis para fazer face a uma pandemia.

Infelizmente o povo, condenado ao tal dever cívico de baixar a cabeça às mentiras que lhe vão  impregnando pelos ouvidos, aceita, quase sem pestanejar, o decretar da morte da liberdade, conformando-se com a ideia de que aqueles que o governam apenas estão a fazer o trabalho que lhes é devido.

A demagogia e a mentira, escamoteadas por uma imprensa servil e corrupta, servem de mote para que os governantes mantenham as populações na ignorância, permitindo-se, dessa forma, todo o tipo de atropelos ao Estado de direito.

Numa sociedade justa e autêntica, a qualquer governante deveria ser vedada a possibilidade de fazer uma promessa sem que, no imediato, explicasse, sem subterfúgios, a modalidade para a sua concretização.

Nessa mesma sociedade qualquer governante deveria ser responsabilizado criminalmente pelo não cumprimento de uma promessa feita no exercício das suas funções.

Talvez, assim, nos víssemos livres dos aldrabões que inundam a classe política, deixando esta exclusivamente entregue a gente honesta e íntegra!