Eis-nos chegados às perguntas que fará falta fazer. Pode um país moderno viver sem Serviço Nacional de Saúde? Não.
Pode um sistema Nacional de Saúde viver sem setores privados e sociais? Não.
Claro que nos é permitido sempre colorir os raciocínios sobre as respostas com a ganga ideológica desejada.
É muito interessante, leva a discussões eternas e etéreas, conduz à negociação do poder, paralisa-o.
Mas os factos são indesmentíveis.
O Serviço Nacional de Saúde, levado ao extremo do seu isolamento, é insuficiente.
O Serviço Nacional de Saúde, conduzido ao gigantismo, não consegue sustentabilidade no financiamento público e corre o risco de ser ineficiente.
O Serviço Nacional de Saúde não é uma entidade mítica, é um instrumento.
Por isso, nem em circunstâncias consideradas normais consegue dar resposta a tudo, resolver todos os problemas. Com este ou aquele Governo, subsistem as listas de espera, não há médicos de família, não há dispositivos nem meios suficientes.
Está ele otimizado no nosso país? Não.
É deficiente a ligação entre centros de saúde e hospitais, é dolorosa ou inexistente a prestação de cuidados continuados ou paliativos.
Ora, o que temos presenciado nestes tempos de pandemia, é a tentativa de solucionar tudo com o Serviço Nacional.
Calaram-se os portugueses durante todos estes meses em homenagem, porventura, aos profissionais de saúde que têm dado tudo e excedido a sua própria capacidade. Mas é muito o tempo em que consultas, ou exames, ou cirurgias se não conseguem, em que os pacientes se acumulam em filas no exterior das unidades de saúde. Em que esperam e desesperam.
Admitiram tudo isso em nome de um bem maior, da luta solidária contra a pandemia, mas o panorama anunciado com o seu agravamento é verdadeiramente desolador.
Portanto, chegamos todos à conclusão de onde partimos. Não é suficiente.
A tal negociação do poder tem sido um obstáculo.
Há quem faça disso gala ideológica.
O Bloco de Esquerda manteve e mantém o Governo prisioneiro.
Até aqui, este mesmo Governo celebrou a companhia, exibiu-a como selo de garantia do posicionamento político.
Pertencia, por isso, ao lado dos bons.
Sem qualquer estranheza são hoje os fracos e os oprimidos que se juntam a todos os outros e percebem não poder continuar-se nesta senda.
Não admira que um recente ex-ministro socialista reclame o fim dos pruridos ideológicos. Sabe ter sido a sua imolação um ato de injustiça.
E o problema principal só agora foi descoberto pela atual ministra. O Bloco de Esquerda não quer melhorar o SNS, quer outro sistema. Tanto tempo para compreender isto?
Porque, apesar de tudo, foram setor privado e setor social que realizaram os testes imprescindíveis, acorreram a sobrecargas de hospitalização no caso dos lares.
Foi a ADSE, os demais seguros de saúde e as pessoas desprotegidas e necessitadas que mantiveram as escapatórias indispensáveis.
Neste cenário no qual todas as previsões mais pessimistas foram excedidas, a evidência demonstra que não há outra solução que não seja chamar os demais integrantes no sistema a responder. E não, não é ninguém que empurra, é a inevitabilidade.
Nota-se que o primeiro dos ministros não sabe o que fazer.
E vota-se, como no caso dos Açores, em conformidade.
Convém ler os sinais.