A espera pelos resultados das eleições dos EUA deixou o mundo a fazer contas, a comparar projeções e a aguardar ansiosamente para ver no que dão os processos judiciais colocados por Donald Trump. O candidato democrata, Joe Biden, está cada vez mais próximo dos 270 votos no colégio eleitoral de que precisa para ser o próximo Presidente, mas todos têm os olhos nos swing states que sobram. Os grandes prémios são Pensilvânia, Geórgia e Wisconsin – Biden venceu este último, mas a margem é suficientemente ínfima para justificar uma recontagem. E Trump não se pode dar ao luxo de perder nenhum deles.
Em Filadélfia, um enclave democrata no meio das regiões rurais da Pensilvânia, maioritariamente republicanas, manifestações rivais defrontaram-se esta quinta-feira. “Mais quatro anos”, entoavam os apoiantes de Trump, segundo a CBS, nos arredores do centro de convenções onde se contam os votos que faltam, enquanto os apoiantes de Biden gritavam: “Contem cada voto”.
Ambos os protestos foram pacíficos, apesar da tensão elevada. Na manhã de ontem, avolumando o stresse da eleição, a polícia de Filadélfia divulgou os vídeos das câmaras corporais dos polícias que balearam sete vezes Walter Wallace Jr., um homem negro, bipolar, que tinha uma faca – foi a sua própria mãe que ligara a pedir ajuda psiquiátrica. No vídeo, a mãe atira-se sobre o corpo e grita: “Vocês mataram o meu filho!”
“Nós compreendemos que os materiais divulgados hoje serão muito dolorosos”, admitiu o procurador-geral de Filadélfia, Larry Krasner. “Vão gerar fúria, raiva, angústia, causar mais perguntas. E justamente”.
No resto do país também se multiplicaram os protestos devido às eleições. Em Phoenix, no Arizona, e em Detroit, no Michigan, onde ainda se contam os últimos votos, multidões cercaram os centros de contagem.
Curiosamente, no Michigan, onde a margem de Biden se tornava cada vez maior, os manifestantes pró-Trump exigiam que se parasse de contar os votos, ou “parar o roubo”; no Arizona, onde a margem de Biden diminuía, apelavam ao contrário, segundo o Guardian.
No caso do Arizona, onde boa parte dos manifestantes pró-Trump estavam armados, houve ainda um outro slogan incomum. “Vergonha para a Fox”, gritavam, após o canal conservador ter sido o primeiro a projetar que os democratas conseguiram virar o estado.
Entretanto começam a surgir nas redes sociais cada vez mais grupos com o objetivo de parar a contagem dos votos, uma tendência viral. Um deles, chamado “Parar o roubo”, juntou mais de 330 mil utilizadores do Facebook desde terça-feira, anunciou a plataforma, que fechou esta página “onde estavam a ser organizados eventos no mundo real”, devido a “preocupantes apelos à violência”, incluindo a uma guerra civil.
Disputa acesa nos tribunais Afinal, Donald Trump está a conseguir desacelerar ou mesmo travar a contagem de votos após a noite eleitoral? Até agora, não: os muitos processos de republicanos apresentados por todo o país parecem ser pouco fundamentados e estão rapidamente a ser postos de lado.
“Creio que muita da litigação é um tiro no escuro e é improvável que tenha sucesso”, afirmou Franita Tolson, professora de Direito na Universidade de Los Angeles. “Suspeito que o grande objetivo desta litigação é, a curto prazo, alterar esta narrativa”, mudando a conversa de uma potencial vitória de Biden para alegações não fundamentadas de fraude, explicou à CNN.
Contudo, talvez um caso mais sério possa ser um recurso republicano ao Supremo Tribunal quanto à decisão da Pensilvânia de alargar o seu prazo de entrega de boletins por correspondência. É algo que põe em causa a validade de milhares de votos, mas que só poderá mudar o rumo da eleição se tudo depender da Pensilvânia – algo que parece mais improvável a cada hora que passa, face aos ganhos de Biden noutros estados.
Entretanto, o Presidente continua à frente na Pensilvânia, cujos resultados poderão sair na sexta-feira, talvez até na quinta-feira de madrugada (hora de Portugal), segundo as autoridades locais. Falta contar centenas de milhares de boletins de voto, a vasta maioria deles democratas, provenientes de Filadélfia e dos seus subúrbios, projeta o New York Times.