“Outra medida que está prevista no estado de emergência é a possibilidade da mobilização de recursos humanos para apoiar todos os profissionais de saúde, em particular profissionais de saúde pública e profissionais de saúde dos cuidados de saúde primários, nas ações de rastreio e também nas ações de acompanhamento e vigilância de pessoas em confinamento obrigatório”, foi desta forma que o primeiro-ministro António Costa anunciou o recrutamento de 915 funcionários públicos – aqueles que se encontram em isolamento profilático ou sem atividade por integrarem grupos de risco – e 127 professores – que não têm componente letiva –, em conferência de imprensa, em Lisboa.
O objetivo passa por permitir que o acompanhamento e vigilância relativamente à covid-19 não sejam apenas realizados por profissionais de saúde e, deste modo, a pressão nos sistemas de saúde seja atenuada.
Esta foi uma das decisões aprovadas no Conselho de Ministros extraordinário do último sábado, em que foi igualmente decretado o estado de emergência que entra hoje em vigor e terminará a 23 de novembro. Serão também mobilizados militares das Forças Armadas.
As Assimetrias
“Há sempre uma assimetria na Saúde Pública”, explicou Ricardo Mexia, adiantando que “se faltasse um anestesista no hospital, não iam recrutar funcionários públicos para ajudar”. O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública não tem certezas quanto à operacionalização desta solução, questionando: “Com que equipamentos é que as pessoas vão telefonar? Como acedem às bases de dados? Que formação terão? Como se articularão com as unidades de Saúde Pública?”.
Além destas perguntas, Mexia realçou que “as tarefas mais diferenciadas têm de ficar com quem as sabe fazer”, sendo que aquelas que são “menos diferenciadas”, como perceber se as pessoas em isolamento profilático desenvolveram sintomas associados ao coronavírus ou se estão a cumprir esse isolamento, podem caber a estes funcionários e professores e “não é fácil perceber porque não foram desde logo mobilizados”.
“Isto implica um conjunto de articulações que deviam ter sido feitas quando a situação estava um pouco mais tranquila, porque as unidades agora estão assoberbadas. Não têm capacidade de resposta para 5000, 6000 casos”, constatou o epidemiologista, que teme a eventual demora na concretização desta medida. “Veremos quanto tempo vai passar”, concluiu.