A temida reabertura das escolas felizmente não tem sido o cenário que se esperava. Geralmente as crianças que testam positivo à covid são infetadas em casa e as escolas não têm sido foco de novos contágios. Ainda assim todos os dias há turmas que fecham e nessa altura o trabalho é feito à distância, como já estava previsto.
O Governo garantiu que as escolas seriam a última coisa a fechar, por estar ciente dos efeitos negativos que estas interrupções podem ter nos estudantes e pais. Ainda bem que existe esta consciência, porque as repercussões de facto podem começar a ser grandes não só ao nível das aprendizagens, mas da saúde física e mental. Caso haja mesmo necessidade de voltar a fechar as escolas, espero que desta vez comecem pelos mais velhos. Os estudantes do ensino superior e do 3.º ciclo já têm uma maturidade totalmente diferente que lhes permitirá acompanhar as aulas e o estudo de forma responsável e autónoma, o que será difícil acontecer com os mais novos. Se no ano letivo passado, com o impacto que esta nova realidade teve para todas as escolas e famílias, foi até saudável relativizar a exigência do ensino à distância, com o prolongamento da situação começam a tornar-se preocupantes os efeitos que esta instabilidade pode ter nos mais novos.
No final do segundo e terceiro períodos houve benevolência na atribuição das notas, como não podia deixar de ser, mas os alunos pouco aprenderam. Este ano, os professores que fizeram a revisão da matéria ficam mais apertados com o programa e os que não o fizeram deixam os alunos com uma lacuna nas aprendizagens esperadas.
Talvez esta fosse uma boa altura para fazer uma boa revisão curricular e repensar o programa escolar em vigor. Não permitir que os números e os resultados sejam o foco, como parece ser em tudo, e haver a preocupação de que os alunos aprendam bem aquilo que é verdadeiramente importante. Acabar com estes programas excessivamente longos que desgastam os professores e desmotivam os alunos. A escola não tem de ser menos exigente, muito pelo contrário. Tem sim de se adequar àquilo que é essencial que os alunos aprendam. Por exemplo, cada vez se escreve pior. Dos SMSaos posts no Facebook, é raro ler alguma coisa bem escrita. Muitos estudantes chegam à universidade sem saber escrever e falar corretamente. Já pouca gente sabe fazer contas. Quase ninguém memoriza as matérias lecionadas, mesmo aquelas que deviam fazer parte da cultura geral. Porque são dadas de forma rápida e enfadonha, no meio de muitas outras pouco relevantes ou dignas de um curso de especialidade.
Ensinar é uma tarefa árdua, ainda mais quando a maioria dos alunos tem a cabeça nas novas tecnologias e está cada vez mais longe do lápis e do papel. Tem sido feito um esforço hercúleo por parte de muitos professores e muita coisa tem melhorado, mas ainda está longe de ser suficiente. Temos de tentar ir ao encontro dos alunos em vez de ficarmos à espera que eles se adequem a um tipo de ensino e conteúdos obsoletos.
A preocupação primordial deverá ser a de que aprendam, que estejam motivados, que gostem de aprender, que se interessem e que terminem a escola ou a universidade a saber alguma coisa. Não é reduzindo a exigência nas escolas e dando boas notas que se vai aprender mais ou estudar mais anos. Muito pelo contrário. Só vamos estar a contribuir para a formação de jovens cada vez menos interessados e interessantes.