A diretora nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Cristina Gatões, falou, esta segunda-feira, sobre a morte de Ihor homenyuk, o cidadão ucraniano que foi assassinado no aeroporto de Lisboa, depois de ter tentado entrar ilegalmente em Portugal no passado dia 10 de março, à mão de agentes da força de segurança, e admitiu que esta foi "uma situação de tortura evidente".
Esta foi a primeira vez que a dirigente do SEF fala sobre o assunto, diretamente das instalações do Espaço Equiparado a Centro de Instalação Temporária (EECIT) do aeroporto Humberto Delgado, em declarações à RTP1. "É evidente que enquanto não percebermos todos o que se passou aqui, acho que nenhum de nós dorme descansado com uma morte destas às costas”, admitiu Cristina Gatões, que apelidou a situação da "pior" que a instituição "alguma vez viveu”.
Recorde-se que o Ministério Público acusou três inspetores do SEF do homicídio qualificado de Ihor Homenyuk no passado dia 30 de setembro. Os inspetores Luís Costa da Silva, Bruno Valadares e Sousa e Duarte Laja encontram-se atualmente em prisão preventiva.
Questionada sobre se tinha colocado o lugar à disposição ou se tinha pensado em demitir-se devido à situação, Cristina Gatões nega. "É uma responsabilidade à qual eu não podia fugir. Por muito duro que seja o momento com que tive que lidar, abandonar não adiantaria nada e não iria introduzir nenhuma mudança positiva, que eu achava que era possível introduzir para que este trágico e hediondo acontecimento não seja nunca esquecido e nos catapulte para garantir que nenhum Ihor volta a sofrer o que este cidadão ucraniano sofreu nas instalações do SEF”, disse. Recorde-se que o caso da morte de Ihor Homenyuk levou à demissão do diretor e do subdiretor de Fronteiras do aeroporto de Lisboa pela diretora do SEF.
A responsável diz ainda que a situação "nunca mais pode voltar a acontecer" e sustenta que depois da morte do Ihor Homenyuk tudo o que estava relacionado com segurança no EECIT do aeroporto Humberto Delgado foi "avaliado novamente e diz ainda ter sido criado “um novo regulamento, que impõe muito mais regras, muito maior controlo, por parte das pessoas que têm que garantir a assistência a estes cidadãos estrangeiros”.
Na altura, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, responsável pelo SEF, determinou a instauração de processos disciplinares ao diretor e subdiretor de Fronteiras de Lisboa, ao Coordenador do EECIT do aeroporto e aos três inspetores do SEF. Cabrita procedeu ainda à abertura de um inquérito à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) que acabou por instaurar oito processos disciplinares a elementos do SEF e implicou 12 inspetores deste serviço de segurança na morte do ucraniano.