Desde o início do novembro foram diagnosticados em todo o país 81 408 casos de covid-19, numa evolução da epidemia que na primeira quinzena do mês superou tanto em número de infetados como de mortes o balanço de outubro. Os dados divulgados pela Direção Geral da Saúde, que o i analisou, mostram que tem havido agora um abrandamento na subida dos casos confirmados e na última semana houve mesmo uma ligeira diminuição dos diagnósticos nas faixas etárias dos 20 e dos 30 anos, que têm registado a maioria das infeções. Houve um aumento de casos nas crianças mais novas e os contágios entre idosos com 70 anos ou mais, os grupos etários com maior risco onde se têm verificado a maioria das mortes desde o início da epidemia, não dão também sinais de diminuir. Na última semana tornou a registar-se um novo máximo de casos nesta faixa etária, com 4800 casos reportados nos boletins da DGS. Desde o início de novembro já houve mais de 10 mil idosos com mais 70 anos ou mais diagnosticados, 4798 casos na faixa etária dos 70 anos e ainda mais acima dos 80 anos, 5346. Números que em meio mês já superaram também outubro, quando tinham sido diagnosticados 8530 em pessoas com mais de 70 anos, já o triplo do mês anterior. A evolução dos contágios em idosos precedeu e tem acompanhado o aumento dos óbitos associados à infeção, que também disparou este mês. Desde o início do mês morreram 1009 pessoas infetadas no país, um balanço que já ultrapassou o mês de abril, quando morreram 820 pessoas com covid-19. Tal como no início da epidemia, a letalidade é maior nas faixas etárias mais velhas.
Novo pico de mortalidade Os dados disponíveis na plataforma nacional de vigilância da mortalidade (EVM) mostram agora que vive um novo pico de mortalidade no país, com mais mortes do que seria esperado nesta altura do ano, tal como aconteceu em abril quando o país viveu a primeira vaga de covid-19 e no verão. Com os dados disponíveis ontem, o dia 15 de novembro, em que foram reportadas 91 mortes por covid-19, foi o dia com mais mortes associadas à infeção desde o início da epidemia e também o dia com mais mortes em Portugal desde o início do ano, 440 – máximos que costumam surgir nos meses de inverno e no pico de ondas de calor. A média de mortes nos últimos dez anos neste mesmo dia foi de 317 óbitos. A análise disponível no EVM, uma plataforma gerida pela Direção Geral de Saúde, estimava ontem 576 mortes acima do esperado nos últimos sete dias, um pico de mortalidade que se verifica a partir dos 65 anos de idade e de forma mais intensa na região Norte no país, onde se têm registado o maior número de infeções e nas últimas semanas também de mortes associadas à covid-19. As causas de mortes não são no entanto conhecidas até serem codificadas pela DGS, um processo de que ainda não há dados para este ano e que já motivou alertas de que, além da epidemia, possa haver um efeito da quebra na prestação de cuidados ou adiamento da procura de cuidados de saúde.
Descontrolo em lares? A esta altura também não existe um ponto de situação recente sobre o número de idosos infetados em lares. A última informação disponibilizada pelo Ministério da Saúde foi de que, até este mês, um terço das pessoas que morreram com covid-19 no país (1090) viviam em lares. O i já o solicitou à DGS e ao Ministério da Saúde informação sobre onde têm aumentado as infeções em idosos, nos lares ou na comunidade, mas ainda não teve resposta. Nas últimas semanas tem havido notícia de surtos em instituições em diferentes pontos do país, também em zonas com maior incidência de covid-19, mas não existe um balanço global. No pico da epidemia, em abril, chegou a haver surtos em simultâneo em 365 lares, com mais de 2500 idosos infetados, sendo que a última informação em outubro apontava para um cenário menos grave nesta fase da epidemia, com 1400 idosos infetados.
Ricardo Pocinho, presidente da Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGES), acredita que os números possam ser hoje superiores e critica não estar a ser divulgada informação, admitindo um cenário de descontrolo nas instituições, tendo em conta até a situação epidemiológica que se vive no país. “Os números não são reais, sobretudo em relação a instituições. Há instituições que não têm utilidade nenhuma em comunicar publicamente casos porque isso só traz degradação sobre os próprios serviços. Há instituições onde as pessoas estão proibidas pelas hierarquias de revelar os focos. E haverá um conjunto até de instituições que, por incapacidade de outros, resolvem o problema com os meios que tem e não se queixam a ninguém”, afirma ao i o responsável.
Ricardo Pocinho considera que, em relação aos idosos que não vivem em instituições, a maioria, o aumento de casos era expectável com a progressão da epidemia. “Acredito que pouco mais possa ser feito, porque o país vivencia um estado pandémico intenso. As pessoas circulam e a partir do momento em que se abriram escolas, creches, e algumas crianças não têm outra alternativa que não seja o suporte dos avós – porque os pais têm de estar a trabalhar –, julgo que não se podia esperar outra evolução”, diz.
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