Apesar da pandemia, 2020 segue um ano de importantes descobertas arqueológicas no Egito. De Saqqara, sítio arqueológico da necrópole de Menfis, importante capital do Antigo Egito, tinham saído já desde o início do mês de setembro e até há uma semana pelo menos 140 sarcófagos em bom estado de conservação, boa parte deles ainda com múmias dentro. Mas há uma semana foi anunciada uma nova descoberta que, mesmo com os avanços que têm sido feitos nos 10 sítios de sepultamento já identificados em Saqqara, surpreendeu até os especialistas.
O Conselho Superior de Antiguidades do Egito anunciou a descoberta de pelo menos uma centena de sarcófagos praticamente intactos e de 40 estátuas douradas naquela necrópole do Antigo Egito. O anúncio, com a apresentação à imprensa de alguns dos sarcófagos, foi feito no fim de semana passado, numa grande conferência de imprensa com a Pirâmide de Djoser como pano de fundo.
Este achado, num dos dez sítios já identificados na necrópole de Saqqara, surpreendeu os arqueólogos sobretudo pelo estado de conservação dos sarcófagos – alguns com múmias dentro, e em bom estado de conservação – e também dos artefactos encontrados.
Na conferência de imprensa desta semana foi aberto um dos sarcófagos, no interior da qual se encontrava uma múmia ainda enfaixada nas longas tiras de linho que eram utilizadas no processo. Os resultados das radiografias que tinham já sido realizadas comprovam que o corpo estava em bom estado de conservação. Tratava-se do corpo de um homem com mais de 30 anos, ao qual tinham sido retirados todos os órgãos exceto o coração.
O conjunto de artefactos e sarcófagos descobertos continuarão agora a ser estudados e examinados. Por agora, sabe-se que, enterrados há cerca de 2500 anos, os sarcófagos e artefactos descobertos remontam, segundo informação avançada pelo ministro do Turismo e das Antiguidades egípcio, Khaled el-Anany, a dois períodos: ao período ptolemaico, dinastia de faraós macedónios que governou o Egito por três séculos, até cerca de 30 anos antes de Cristo, mas também a uma fase ainda anterior a essa, à Época Baixa, entre 664 e 332 a.C., que terminou com a conquista do território por Alexandre, o Grande, que deu origem à dinastia ptolemaica, à qual pertenceu Cleópatra e que viria a ser a última do Antigo Egito.
As peças descobertas serão agora, segundo anunciado, transferidas para pelo menos três diferentes museus no Cairo.
Parte delas terão como destino o Grande Museu Egípcio, que está a ser construído junto às icónicas pirâmides de Giza e que, após sucessivos adiamentos, tem agora a sua inauguração prevista para o próximo ano.
A importante descoberta não será contudo a última deste ano, num país que não está a deixar que a pandemia de covid-19 afete a prossecução dos trabalhos arqueológicos de grande escala que têm vindo a ser levados a cabo – apesar do rude golpe que significou para o setor do turismo num país que tem o seu passado histórico como um dos mais importantes fatores de atração para o exterior, sobretudo depois do conturbado período que se seguiu à deposição de Hosni Mubarak, em 2011, desencadeado pelas revoltas populares que ficaram conhecidas como a ‘Primavera Árabe’.
Segundo Khaled el-Anany, ainda este ano será anunciado um novo feito. também naquela que era a necrópole de uma das mais importantes cidades do Antigo Egito. O secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades, Mostafa Waziri, indicou que as equipas de arqueólogos a trabalhar na necrópole descobriram outro conjunto de sarcófagos «bem dourados, bem pintados, bem decorados».
A descoberta desta centena de sarcófagos surge entre uma série de importantes achados arqueológicos para o Egito nos últimos meses: só desde o mês de setembro, foram encontrados pelo menos outros 140 sarcófagos selados, muitos deles com múmias dentro, também em Saqqara, que corresponde apenas a parte do que terá sido a necrópole de Menfis e que inclui as pirâmides de Giza, bem como as de Abu Sir, Dahshur e Abu Ruwaysh. Ruínas que desde a década de 1970 estão classificadas como património mundial da Unesco.
Em setembro, havia já sido anunciada a descoberta de outros 27 sarcófagos que os especialistas acreditavam terem-se mantido selados por cerca de 2500 anos. E no passado mês de outubro foram exibidas seis dezenas de outros em «perfeitas condições» de conservação. Todas elas descobertas que permitirão avançar no estudo dos últimos séculos da civilização egípcia.
Mas os sarcófagos cuja descoberta constituem achados de uma outra importância. Segundo Mostafa Waziri explicou aos jornalistas, o facto de estarem ainda mais bem conservados do que aqueles que haviam sido mostrados no mês passado indica que pertenceriam a classes sociais superiores. «O nível de vida [é de] pessoas de uma posição elevada e é por isso que as condições em que se encontram os féretros não são iguais às dos que anunciámos em outubro», afirmou o alto responsável egípcio. «Se [na última descoberta] estávamos perante o sarcófago de um sacerdote, aqui estamos perante o de um alto-sacerdote».