Casos ocultados de covid-19 nas universidades têm sido um dos principais problemas reportados em tempos de pandemia. E este «secretismo» em torno do número de situações de contágio em algumas instituições tem originado alarmismo na comunidade. Ao SOL, o presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), Gonçalo Velho, admitiu que, do ponto de vista da informação, existem situações desiguais que não podem, de todo, ser uma realidade na fase crítica que Portugal atravessa.
«Há instituições que têm a preocupação de divulgar boletins epidemiológicos, inclusivamente com a situação por escola ou faculdade – têm polos descentralizados –, mas há outras que simplesmente ocultam a informação. Apesar de o número de casos ser relativamente limitado face às dimensões das comunidades, as instituições que não informam criam maior ansiedade do que aquelas que informam. Verificamos que basta haver um caso e imediatamente há logo pânico na comunidade», confessou, sublinhando que, por isso, é necessária a criação de uma plataforma com a indicação diária de casos positivos de covid-19 por escola e por faculdade. Para tal, sugere que esse boletim epidemiológico seja feito pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), em articulação com a Direção-Geral da Saúde (DGS).
«Neste momento temos condições e ferramentas para concretizar esse boletim diário», atirou, reforçando que uma boa comunicação por parte das instituições é o melhor para afastar «mitos» e «danos».
«Os casos que temos são todos fora da comunidade e não têm dado origem a surtos no interior das instituições. Portanto, a comunicação é a melhor forma de conseguir ultrapassar mitos que se possam construir em torno da covid-19 e, sobretudo, danos em relação à comunidade exterior. Porque depois começa a haver comentários nas comunidades envolventes. E, como muitas destas instituições estão em cidades pequenas, tudo ganha uma dimensão que desvaloriza a instituição, que passa a ser conhecida por um sítio onde existe possível contaminação mas onde estão a esconder casos. Isso é a pior coisa que pode acontecer para uma instituição de ensino superior», concluiu Gonçalo Velho.
Nesse sentido, a Federação Nacional dos Professores (Fenprof), recorde-se, já acusou o Ministério da Educação de estar a «encobrir» casos positivos de covid-19 nas escolas até ao ensino secundário, mantendo o «secretismo» e a «opacidade». «É lamentável que o ministro da Educação viole a lei, desvalorize os sindicatos e desrespeite os professores, mas esses também serão motivos que levarão os docentes a lutar», lê-se em comunicado.
Dificuldades para professores de risco
Cerca de um em cada quatro professores pertencem a algum grupo de risco para a covid-19, segundo revelou, na quinta-feira, um inquérito da Federação Nacional da Educação. Mas, segundo o SNESup, no que toca às universidades, há medidas de prevenção da covid-19 que não estão a ser cumpridas. «Continuamos com algumas situações que, apesar das indicações do Ministério da Saúde, não estão a ser cumpridas. Temos casos de professores que são identificados como pertencentes a grupos de risco, pelos médicos de família e pelos centros de saúde, e as instituições não respeitam aquilo que está identificado», explicou Gonçalo Velho.
Apesar de todas as dificuldades existem, porém, melhorias que não podem ser descartadas. «Diminuiu o número de situações reportadas em relação às falhas nas medidas de proteção individual e também das condições das salas», relatou o presidente do SNESup, deixando ainda claro que a importância do ensino presencial tem sido tida em conta. «Não existe pressão para a passagem para o ensino à distância. Com o evoluir da situação, cada vez começa a haver maior assimilação em relação à importância do ensino presencial», garantiu.
Nesse sentido, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, já afastou a possibilidade de encerrar universidades e politécnicos e, à RTP, garantiu que fechar portas não resolve os problemas da pandemia. «As instituições de ensino superior são certamente, hoje, das instituições mais seguras, e os números são bem claros: na Covilhã, Coimbra, Aveiro, Porto, Minho, Lisboa, Évora, em todas veem-se ambientes de alta segurança e os números assim o confirmam», assegurou, sublinhando ainda que «não é a confinar as instituições do ensino superior» que se resolvem os períodos de contágio que não estão dentro das instituições.