André Ventura agita o pântano, apavora os que vivem dele e talvez os faça mudar de rumo (a esperança é a última coisa a morrer). Para um deputado sozinho, é obra!
«Importa-se que a sua filha case com um cigano?» – perguntou-lhe Miguel Sousa Tavares. Se me fizessem a pergunta, eu também responderia: importo, claro! Importava-me que a minha filha casasse com alguém ‘inserido’ na comunidade cigana. Como me importaria se fosse com um índio duma tribo na Amazónia; ou um somaliano na Somália; ou um dinamarquês numa imaginária comunidade viking; ou um africano, árabe ou europeu muçulmano. Meu Deus! Qual é o pai que, amando a filha, conhecendo a vida e o mundo, desejando a sua felicidade, não se importaria? Não é preciso explicar o óbvio! Esse humano sentimento é um ato de inteligência, previsão e prudência, que não tem nada a ver com racismo, como logo percebe quem não pense com os pés.
É da hipocrisia e destes delírios que estamos fartos. Fartos de tolerar a irresponsabilidade de quem vive deles. Fartos do vosso ócio, da vossa incompetência, da corrupção que não enfrentam e alimentam, do atraso em que nos obrigam a continuar a viver, do nepotismo, que agora até ameaça as nossas vidas. Não querem seguramente brincar com o destino das vossas filhas, mas brincam com o destino das nossas, desde logo na escola. Quem alimenta os Chegas?
A resposta de Ventura à pergunta néscia só aparentemente foi desprevenida. Não foi por não a ter preparado – como um ingénuo Poiares Maduro (que aprecio) criticou. Hábil e temível, Ventura aproveitou a armadilha que o entrevistador julgou montar-lhe e saiu-se dela em beleza… com muito mais votos. Maus e bons votos. Bons como precisa mais.
Se Miguel Sousa Tavares disse «cigano» (não me recordo…), o que Ventura ‘ouviu’ e a que respondeu (como eu responderia) foi seguramente «da comunidade cigana». E ‘ouviu’ assim por não ser estúpido. Por não ser mesmo tão estúpido, penso, que possa ser racista! Percebem-se nele, aliás, bem integradas, componentes da riqueza genética que valoriza os portugueses.
E vejo perpassar preconceito étnico na pergunta de MST ou mesmo um fio de racismo de que o próprio nunca poderia ou poderá aperceber-se. MST é como alguém que não consegue visualizar mais do que três lances no jogo de xadrez, um futebolista que só chuta para onde está voltado.
Se a TVI não mudar de entrevistador, vai ser bonito até às eleições!
Aproveito a oportunidade para observar: será que MST perguntaria a Mamadou Ba se tem amigos brancos? Ou ao líder de uma comunidade cigana se deixaria a filha casar com um branco ou um negro?
Um amigo contou-me um dia que dois guineenses com quem trabalhou lhe disseram: «Aqui somos inseparáveis, apesar de sermos de etnias diferentes: mas na Guiné eu não poderia casar com a irmã dele».
Ah, já me esquecia: importar-me-ia muito que a minha querida filha quisesse casar com um branco como MST.