Todos sabemos que os quatro maiores partidos da democracia têm as suas referências. No PS Mário Soares, no PSD Sá Carneiro, no PCP Álvaro Cunhal e no CDS Freitas do Amaral. Já lá vão 46 anos e tanta coisa mudou e como nada é eterno também estes protagonistas já não existem fisicamente, mas o seu legado e valores continuam bem presentes. António Costa, Rui Rio e Jerónimo de Sousa, são por direito os seus continuadores, por que ocupam os seus lugares e com eles privaram.
Os próximos líderes destes partidos já não têm estas referências, porque não as viveram, para eles o passado e os seus protagonistas fazem parte da história. Que bom é ver comentadores a falar de acontecimentos que viveram ou ler artigos de opinião de pessoas que tanto nos ajudam a compreender o passado.
O mundo está em mudança acentuada, as novas tecnologias estão a fazer empresários sem rosto e sem afetividade, as redes sociais estão a fazer políticos sem valores e sem qualquer humanização, só lhes interessa o poder.
O futuro é imprevisível, não o conhecemos, mas podemos debruçarmo-nos no presente. PS e PSD, foram sempre os maiores partidos na democracia. Umas vezes Governo quando ganham eleições, outras vezes oposição quando as perdem. Esse foi sempre o entendimento entre eles. Na votação do primeiro Orçamento de Estado, o maior partido da oposição, abstinha-se e o Governo era legitimado. O PS em 2015 sendo o segundo partido mais votado por norma seria líder da oposição. Porém António Costa resolveu ensaiar outra opção, fazendo acordo com outros partidos representados na Assembleia da República, gerando maioria e assim poder formar Governo. Abriu um precedente, que passou a ser legítimo para todos os outros partidos.
Estamos a passar por uma crise pandémica sem fim à vista, a maior crise económica, social e humana da nossa geração. António Costa não é culpado pelo maldito vírus, mas é culpado pela crise política gerada e pelo desprezo e arrogância com que trata os adversários. Hoje vê-se cansado, triste, amargurado e impotente. No Governo não há soluções e no PS começou a luta pelo seu lugar.
António Costa errou quando disse a frase sinistra «o dia que precisasse do PSD o seu Governo caía». É esse o seu conceito de democracia?
Nas democracias modernas, nomeadamente na Europa procuram-se consensos para se formar Governos de maioria. Portugal é um caso inédito porque somos os únicos que temos um Governo minoritário e sem apoio parlamentar. Quem está errado?
António Costa, ainda não percebeu que o poder é efémero e tão honroso é ser primeiro-ministro como ser líder da oposição.
Rui Rio como líder da oposição é adversário, mas não é inimigo e demonstrou a sua integridade principalmente na primeira fase pandémica, não criticou e apoiou o Governo em todas as decisões. Rui Rio não é o político que vive de conveniência, por vezes é controverso, mas é coerente, muito honesto, tem caráter, é inteligente e bem formado. Os assuntos em que se pronuncia são estudados e preparados ao pormenor. Dificilmente as suas intervenções, são motivos de reparo. António Costa não devia estar preocupado com o líder da oposição só porque discorda e vê nele capacidades intelectuais elevadas e convicções inabaláveis, pelo contrário na política ter assim um adversário é ser fonte de inspiração e conhecimento.
A preocupação de António Costa é outra e já não pode ser oculta. No primeiro Governo, tudo correu bem, ministros competentes nas Finanças, na Saúde e no Trabalho e tinha acordo parlamentar. Hoje é diferente, esses saíram e os que estão não são iguais e alguns deles são politicamente pouco recomendáveis e deixou de ter acordo parlamentar.
Estamos a viver o momento mais delicado da nossa existência. É na União Europeia que procuramos a nossa boia de salvação. Não é possível continuarmos com um Governo minoritário e sem apoio. Como referiu Winston Churchill: «Provavelmente é mais fácil formar-se um Governo, especialmente um Governo de coligação nacional, no calor da batalha do que em tempos mais calmos. O sentido do dever domina tudo o resto e todos os interesses pessoais passam para segundo plano».
Peço eu e a maioria dos portugueses ao primeiro-ministro e ao líder da oposição, dois europeístas convictos que deixem o orgulho e a estratégia de lado e que se entendam. Peço eu e a maioria dos portugueses ao Presidente da República que exija esse entendimento para salvar Portugal e a Democracia.