As vacinas começarão por ser distribuídas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) logo que haja aprovações da Agência Europeia do Medicamento, o que é esperado no caso da vacina da Pfizer a 29 de dezembro, lembrou a ministra da Saúde na abertura da sessão de apresentação do plano de vacinação para a covid-19.
“Apesar de todas as incertezas, desde logo a fase de ensaios em que ainda nos encontramos, os grupos etários para os quais existem dados disponíveis, isso não nos pode inibir de planear o que será um aspeto central na capacidade de enfrentar a doença”, afirmou Marta Temido.
Francisco Ramos, coordenador da task-force, sublinhou que o objetivo do plano nacional de vacinação da covid-19 é reduzir a mortalidade e os internamentos.Os grupos prioritários foram definidos com base na informação sobre a doença. Numa primeira fase, serão vacinadas 950 mil pessoas: utentes e profissionais de lares, pessoas com mais de 50 anos com doença grave do foro cardíaco, renal e pulmonar e profissionais de saúde e elementos das Forças Armadas.
"Em janeiro começará a vacinação dos portugueses", anunciou Francisco Ramos. "Não somos capazes de dizer se é dia 1, 2 ou 10. Num cenário otimista, a primeira fase será entre janeiro e fevereiro, ou janeiro e março. Se correr pior em termos de entregas, de janeiro a abril", explicou. Já a segunda fase "dependerá da mesma condicionante", afirmou, acrescentando: "Após o primeiro trimestre em que temos garantidas 2 milhões de doses, a perspetiva é de que o número suba e que nos mesmos três meses do segundo trimestre seja possível vacinar mais pessoas".
Pontos de vacinação nos centros de saúde para os 400 mil portugueses de grupos de risco na primeira fase
Os idosos nos lares serão vacinados nos próprios lares por equipas de enfermagem próprias ou equipas dos centros de saúde, adiantou também o responsável, deixando a ressalva de que depois da primeira fase poderá ser necessário expandir os pontos de vacinação, o que neste momento não está ainda definido.
“Este é um processo em que tem de ter um registo muito apertado. Temos de saber em cada momento quem foi vacinado, quem não foi vacinado e que quem toma uma dose fica logo com a segunda dose marcada e que essa segunda dose existe. Não é admissível que ocorram falhas”, sublinhou.
Francisco Ramos anunciou ainda que vai haver um sistema de chamada de pessoas para vacinação, com os centros de saúde a contactar as pessoas de risco para serem vacinadas, inicialmente os doentes crónicos com mais de 50 anos, numa primeira fase cerca de 400 mil doentes de risco. Os serviços de saúde ocupacionais tratarão de vacinação dos profissionais de saúde. O mesmo nas forças de segurança.
Nos doentes de risco que serão vacinados na primeira fase incluem se pessoas com doença cardíaca, renal e pulmonar. Doentes oncológicos e diabéticos serão vacinados na segunda fase. Um processo de chamada de utentes que ficará a cargo dos médicos de família.
Em relação à distribuição, o responsável esclareceu que vai haver uma lógica de comando e controlo, centralizados no Ministério da Saúde com a gestão apoiada pelas Forças Armadas, forças de segurança e serviços de inteligência, visto que a operação levanta questões de segurança, que é preciso acautelar quer ao nível dos locais onde vão ser dadas as vacinas, quer do transporte e do armazenamento, sublinhou Francisco Ramos.
Por fim, haverá uma campanha de vacinação e avaliação de percepção pública associada à vacina, nomeadamente barreiras para a toma, revelou ainda, anunciando a criação de um site e de linhas telefónicas de apoio para a população e profissionais de saúde, que servirá também para fazer marcações.
“Temos de gerir a incerteza. Todo este plano e esta estratégia, a que já apresentámos e a que ainda vamos apresentar, pode ser revista até qualquer momento. Até há dois dias a única informação que tínhamos provinha das farmacêuticas. A partir de ontem temos dados de informação de um organismo que nos diz que esta vacina é suficientemente segura. Garantir este fino equilíbrio entre gerir incerteza gerar confiança é essencial”, sublinhou.
Não são esperados limites para a toma de vacina por idosos na vacina da Pfizer, que deverá ser a primeira a chegar
A agência europeia do medicamento é que irá definir idades recomendadas em cada vacina.
No caso da vacina da Pfizer, a agência reguladora do Reino Unido, que emitiu uma autorização de emergência, não impôs nenhum limite de idade de idosos, mas excluiu numa primeira fase da vacinação crianças até aos 18 anos e grávidas, o que poderá vir a acontecer também na regulamentação a nível europeu. Esse é pelo menos o cenário esperado pela task-force nacional.
O plano de vacinação será reavaliado quinzenalmente, estando previsto o próximo ponto de situação para 15 dias.
Em declarações aos jornalistas, o coordenador da task force, Francisco Ramos, sublinhou a necessidade de haver confiança no processo de vacinação que vai depender da adesão de todos os portugueses e defendeu uma mobilização nacional em torno da campanha de vacinação, recordando o movimento coletivo que existiu no Europeu de 2004.
Ao todo, entre centros de saúde, unidades de saúde familiar e extensões de saúde em localidades mais pequenas existem 1200 pontos de vacinação no SNS onde serão dadas as vacinas. Nas aldeias do interior, as equipas dos centros de saúde poderão deslocar-se para fazer a vacinação de doentes de risco, da mesma forma que está prevista a ida a lares.
No final da apresentação, o primeiro ministro sublinhou que existe confiança na aprovação das vacinas e que tudo dependerá disso, sublinhando que a esta altura existe muitas imponderabilidades em todo o processo. “Todos temos a confiança de que a EMA vai aprovar a primeira vacina a 29 de dezembro. Se não aprovar, não teremos cá nenhuma dose em janeiro”.
António Costa reconheceu que será o maior esforço de vacinação feito no país em volume de vacinas e no tempo previsto, todo o próximo ano. “É bom saber que há uma luz, mas temos um longo túnel a frente. Mas hoje estamos melhor do que há uma semana e seguramente melhor do que há seis meses. Haja confiança”, apelou.